São Paulo, sexta-feira, 4 de agosto de 1995
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Tributo a Fernando Pessoa

A dar crédito à definição de Fernando Pessoa de que o poeta é um fingidor, Brasília deveria ser uma Nova Atenas, onde a mais nobre das artes inspiradas pelas musas deveria florescer e prosperar. Infelizmente, não é bem assim.
Ao tomar posse, o presidente Fernando Henrique Cardoso ``decretou" o fim da fisiologia. Mas parece que a mãe de todas as musas, Mnemosìne (memória), faltou ao presidente -o que, aliás, vem acontecendo com frequência- e ele se esqueceu de seu ``decreto".
Agora, insatisfeitos com a distribuição de cargos nas teles, políticos do bloco de sustentação do Planalto ameaçam dificultar as coisas para o governo de que fazem parte. Mas não há motivo para alarme imediato. É claro que tudo não passa de jogo de cena. Políticos têm em relação a cargos a mesma atração que dom Juan tinha em relação a mulheres. E, como informou Josias de Souza em sua coluna de ontem, FHC ainda dispõe de uns 4.500 cargos federais espalhados pelas unidades federativas. É alimento o bastante para fazer o Congresso ``andar na linha" por mais algum tempo.
O PFL, naturalmente um dos mais irritados com a distribuição de cargos, também não passa de um fingidor. O todo-poderoso senador baiano, Antônio Carlos Magalhães, insinuou que iria jogar pesado com o governo e teve parte de suas reivindicações atendidas. De resto o PFL finge que quer um Estado mínimo e o proclama em altos brados. Na hora de ocupar cargos, porém, a velha Mnemosìne falta ao encontro e o PFL busca o Estado máximo.
Não, infelizmente Brasília -em que pese o grande fingimento lá reinante- não vem produzindo muita poesia. A menos, é claro, que se defina poeta pela paráfrase que Guilhermino César fez dos versos de Pessoa: ``RETRATO FINGIDO / Esse poeta é um fingidor / finge tão safadamente / que chega a ser furta-cor / para ficar coerente".

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