São Paulo, sexta-feira, 4 de agosto de 1995
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A hora dos bancos

CLÓVIS ROSSI

SÃO PAULO - A abertura do mercado financeiro, prevista em protocolo assinado pelo Brasil na OMC (Organização Mundial do Comércio), não passará com facilidade no Congresso.
É natural: abrir a economia é bom quando a abertura atinge os outros. No próprio setor, causa sempre choro e ranger de dentes. As dificuldades aparecem, por exemplo, na avaliação feita para a Folha por Maurício Schulman, presidente da Febraban (Federação Brasileira das Associações de Bancos).
Ele se diz a favor, desde que a abertura se faça ``de forma lenta e gradual". Schulman cita o exemplo do setor automobilístico, em que a abertura foi ``rápida demais e deu no que deu".
Sugere enfim que se fixem limites progressivos para a fatia de mercado a ser eventualmente ocupada pelas instituições estrangeiras.
Mas a Febraban não será, certamente, o eixo das eventuais pressões contra a abertura, porque está dividida. Henrique Meirelles, presidente do Banco de Boston e membro da diretoria da Febraban, é francamente a favor da abertura, sem qualquer tipo de condicionamento.
O curioso é que Meirelles usa a comparação com o setor automobilístico, sem saber que Schulman havia mencionado o assunto, para defender tese oposta à do presidente da Febraban.
``Pode-se ser contra a importação de automóveis, mas ficar contra uma empresa estrangeira fabricar carros no Brasil é coisa do século passado", afirma o banqueiro. Motivo da comparação: a abertura do setor não significa a importação de capital, mas a eventual instalação de bancos estrangeiros no Brasil.
Mas, atenção, o presidente do Banco de Boston (e também da Câmara Americana de Comércio) afasta a hipótese de uma corrida de bancos estrangeiros para o Brasil.
Cita até as três grandes transações mais recentes, no setor, todas envolvendo instituições estrangeiras que acabaram em mãos de bancos nacionais.
Para Meirelles, ``o Brasil vai atrair bancos apenas para nichos de mercado, embora extremamente importantes, como, por exemplo, o financiamento do comércio exterior".
Pode ser um nicho apenas, mas é nele que moram as tentações.

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