São Paulo, sexta-feira, 4 de agosto de 1995
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E.T.

CARLOS HEITOR CONY

RIO DE JANEIRO - Consta que os congressistas, depois de um mês em contato com as bases, retornam a Brasília com uma visão da realidade nacional. O primeiro semestre foi tão artificial quanto um penteado de perua, um seio de travesti.
A capital não é lá essas coisas em matéria de ressonância popular. A comparação com Versalhes é lugar-comum. A cena de Maria Antonieta na janela, a sugestão para o povo comer brioches deve ter ocorrido nesses dias em que agricultores e sem-terra bivacaram na cidade oficial.
Os primeiros seis meses do governo foram consumidos em ``reengenharia" num país em que não há nem sequer engenharia. Vendas de estatais foram autorizadas para pagar contas de luz, telefone, viagens e goiabada. O Instituto Atlântico, que está despejando grana para lubrificar a reengenharia, selecionou as estatais mais rentáveis. Veremos que, ao terminar as privatizações, o Estado continuará administrando fábricas de guarda-chuvas e manufaturas de escovas de dente.
Entre as prioridades do Instituto Atlântico que o governo encampou como suas, gosto de lembrar a navegação de cabotagem -que eu nunca imaginava ser entrave ao nosso desenvolvimento. Os Estados Unidos devem estar com o progresso ameaçado, pois lá não houve tal e tamanha reengenharia.
Bem, os congressistas se reciclaram, ouviram suas bases e agora ouvirão o brado que virá do Planalto pedindo novas reengenharias. Uma delas, importantíssima, será a da reeleição do presidente da República.
A imprensa divulgou a foto de um suspeito de ser extraterrestre. O cara tinha seis dedos em cada mão. Nunca me dei ao trabalho de saber quantos dedos tem cada mão do presidente da República. Numa entrevista que fiz com ele, durante a campanha, garantiu-me que nasceu em Botafogo, aqui no Rio. Logo, não deve ser extraterrestre. É possível que ele tenha me enganado, e, em vez de 5, tenha 6 dedos.
Justo aquele que não aparecia, mas prometia à nação esse tipo de reengenharia do Estado. Só que não fui eu o único enganado.

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