São Paulo, domingo, 6 de agosto de 1995
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Descaso cria sucata de US$ 3,2 bilhões

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Normas internacionais sugerem que 10% do valor de um equipamento hospitalar sejam investidos a cada ano na sua manutenção. No Brasil, o gasto não chega a 2%.
Essa economia preguiçosa provoca prejuízos estimados em U$ 3,2 bilhões. O Ministério da Saúde calcula que 40% dos cerca de U$ 8 bilhões de equipamentos hospitalares estejam sucateados por falta de gerência ou manutenção.
Compras malfeitas e a falta de cuidados técnicos com os equipamentos estão entre os maiores ralos por onde escapa o dinheiro público da saúde. Se computados outros danos decorrentes do sucateamento, os prejuízos atingiriam dezenas de bilhões de dólares.
``Um tomógrafo quebrado demorava meses para ser consertado", diz José Marcos Sanchez Masson, gerente hospitalar do Instituto Emílio Ribas. ``Por conta disso, o paciente ficava vários dias internado além do necessário."
Nessa contabilidade não entram a dor e os riscos de vida do doente. O Hospital do Servidor Público Estadual está instalando agora um aparelho de Raios X telecomandado de última geração que passou um ano encaixotado.
O aparelho custou R$ 600 mil, mas nem a rede elétrica nem a sala estavam preparadas para recebê-lo. Em um ano, poderia ter feito 7.000 diagnósticos.

Engenheiros
Mais de 50% dos custos de um hospital geral vão para equipamentos. A Organização Mundial de Saúde recomenda a contratação de um engenheiro clínico -especializado em equipamentos- para cada 400 leitos. O Estado de São Paulo, com cerca de 100 mil leitos, deveria ter 3.000 engenheiros. Tem menos de 50.
A precária ``saúde" das máquinas pode estar provocando danos físicos incalculáveis. ``Equipamentos de diagnósticos com problemas técnicos podem apontar doenças erradas ou que não existem", diz Tizuko Sinto Rinaldi, diretora do Departamento de Equipamentos de Saúde da Secretaria de Estado da Saúde.
Respiradouros mal calibrados em centros cirúrgicos podem matar pacientes. A causa da morte não aparecerá no laudo médico.

Permutas
A função de Tizuko é implantar programas de manutenção. Na sexta-feira, ela se reuniu com 40 secretários de Saúde da região de Bauru para ensiná-los a comprar bem e a investir em manutenção.
A equipe de Tizuko já constatou que de 13 Raios X de grande porte comprados recentemente, 6 foram para cidades que necessitam de aparelho menor e mais barato.
Para quebrar o ciclo do desperdício, a Secretaria da Saúde está fazendo ``permutas em cascata".
Uma delas: o Emílio Ribas de São Paulo tinha um processador de Raios X encostado que foi para a Santa Casa de Nova Europa que, por sua vez, não usava um aparelho de Raios X portátil que foi para o Hospital Brigadeiro que, em troca, mandou um ultra-som sobrando para um hospital de Jaú.

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