São Paulo, domingo, 6 de agosto de 1995 |
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De volta ao mesmo
MARCELO LEITE Quando entrei em minha sala na quinta-feira, de volta das férias, encontrei exatamente o que imaginava: dezenas de cartas. O que não podia esperar era que o escritório do ombudsman tivesse batido um recorde, na ausência do titular.Pois bateu. Depois de oito meses com uma média mensal de atendimentos na casa dos 700, ocorreu um salto para a dos 800 no bimestre junho/julho. Foram 1.608 os leitores que procuraram o ombudsman nesses dois meses (veja quadro), mesmo com a vacância em metade do tempo. Não que a novidade fosse tão grande assim. O grosso das reclamações, o leitor pode desconfiar, ainda se referia aos problemas com a encadernação dos fascículos. Entre Atlas Folha/"The Times", Dicionário Folha/Aurélio e "Conhecer por Dentro", as queixas montaram a 719. Com outras 81 referentes a problemas com assinaturas, conclui-se que metade do atendimento do ombudsman teve caráter meramente administrativo, no período. Nada de novo no front. Erramos Em andanças por Minas Gerais e Mato Grosso do Sul, dois Estados que não são belos só no nome, nem sempre conseguia encontrar a Folha. Das leituras que foi possível fazer, ficou a impressão de que declinava a quantidade de falhas retificadas na seção Erramos. Bingo. Bastou um levantamento comparando junho com julho para verificar que a intuição estava correta. De 3 de junho a 2 de julho, foram 90 erramos, média de 3 por edição. Nos 31 dias seguintes, as férias do ombudsman, foram 71 correções, ou 2,3/dia (23% menos). Talvez o jornal tenha acertado mais nesse período. Talvez. Minha intuição sugere ser mais provável que a Redação tenha sido complacente na identificação e retificação dos erros que sempre comete. Muitos erros. Mais uma lista Na quarta-feira passada, surpreendi-me com uma carta estranha no Painel do Leitor, do pastor presbiteriano Jaime Wright, ex-coordenador do projeto "Brasil: Nunca Mais" da Arquidiocese de São Paulo (católica). O texto, curto, comporta reprodução: "Muito bem-feito o gráfico sobre os presos políticos desaparecidos (27/7). Não dá para entender, no entanto, a não-publicação da lista distribuída pelo chefe de gabinete do ministro da Justiça dois dias antes. A Folha se justifica dizendo: `A lista foi publicada pela Folha em 24 de maio'. E daí?, perguntamos. Aquela lista tinha o aval dos militares? Era de 136 pessoas?" O que mais espantava não era tanto o jornal ter deixado de publicar a primeira lista oficial de desaparecidos, mas que a carta tenha sido publicada sem resposta. O leitor só podia ficar desorientado: afinal, era a mesma lista ou não? A esta altura, ainda ignorava o fato de a chamada lista Gregori (de José Gregori, chefe de gabinete do Ministério da Justiça) ter sido destacada em manchete um dia antes (26/7) pelo concorrente "O Estado de S.Paulo". Liguei para Jaime Wright. Na opinião do pastor, a questão não era saber se se tratava da mesma relação de 24 de maio ou não (na realidade, era, com a omissão de 3 pessoas conhecidas somente por apelidos e de 13 outras desaparecidas fora do país). "Mesmo que fosse idêntica, não teria o valor histórico que tem uma (lista) com a chancela dos militares", argumenta Wright, para quem a não-publicação foi um "acinte aos leitores". O diretor de Redação da Folha, Otavio Frias Filho, concorda que houve falha: "Deveríamos ter publicado a lista". A importância histórica e jornalística desse ato de governo é evidente, dispensa comprovações. A não-publicação pela Folha de sua manifestação mais importante -os 136 nomes- provoca ainda mais estranheza por duas razões: 1. A Folha é fixada em listas. Dos produtivos aos improdutivos da universidade, dos devedores do Banco do Brasil aos parlamentares faltosos, não perde a chance de assumir quase temerariamente a defesa do direito à informação. 2. Um único período foi cortado do texto de dez linhas originalmente enviado ao Painel do Leitor por Wright, que continha uma hipótese bem mais desairosa para o jornal: "O fato de a Folha ter sido furada por concorrentes não justifica privar seus assinantes e leitores da primeira lista oficial originária de governos pós-ditadura". A Direção de Redação esclarece que não houve qualquer decisão de deixar de publicar a lista Gregori em função do furo, como supõe o pastor. Não é com efeito do estilo da Folha esconder esse tipo de erro. Por outro lado, mesmo não tendo relação direta com a omissão, nada justifica o corte efetuado na carta, que respeitava o limite estabelecido pela seção Painel do Leitor. Viagens a convite Em minha coluna de 11 de junho, defendi o ponto de vista de que a única solução para as reservas suscitadas por viagens de jornalistas pagas por empresas era que a própria publicação custeasse os deslocamentos. A Folha não foi ainda tão longe, mas na última quarta-feira fez circular um comunicado no qual se afirma: "a) A Direção de Redação considera incompatível o exercício da atividade jornalística na Folha com a procura, por iniciativa do profissional, de cortesias ou convites externos para efetivação de cobertura jornalística. b) Caso haja oferta de cortesia (total ou parcial) para eventos ou viagens a trabalho, ela deve ser registrada por escrito pela entidade/instituição que a propõe. Só serão encaminhados orçamentos de viagem que contenham em anexo cópia desse registro e após autorização da Secretaria de Redação." Só não assino embaixo porque já assinei lá em cima. Texto Anterior: OPINIÃO DA FOLHA Próximo Texto: NA PONTA DA LÍNGUA Índice |
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