São Paulo, domingo, 6 de agosto de 1995
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Curdo monta 'fast food' em SP

VICTOR AGOSTINHO; BETINA BERNARDES
DA REPORTAGEM LOCAL

Mehmet Aydin, 28, é há dois meses o feliz proprietário do primeiro restaurante de comida curda de São Paulo.
Quem o vê hoje com o logotipo do Kurdistan Kebab (nome do restaurante) estampado em uma camiseta e anotando pedidos não é capaz de imaginar que, em 1989 Aydin, então estudante de Ciências Políticas, foi obrigado a abandonar a Turquia por problemas com o governo local e seguir para a Suíça.
Aydin não admite que fugiu da Turquia. Na cabeça dele, e na da maioria de seus compatriotas, Aydin abandonou o Curdistão.
Mas o Curdistão, hoje em dia, não existe geograficamente. Em 1923, a região denominada Curdistão foi territorialmente dividida entre Turquia, Síria, Irã, Rússia e Iraque.
Isso significa que os curdos vivem nestes cinco países. E não concordam com esta situação.
Existem cerca de 35 milhões de curdos, sendo 22 milhões na Turquia, 6 milhões no Irã, 5,5 milhões no Iraque, 900 mil na Síria, 200 mil na Rússia e o restante em outros locais.
Aydin acusa o governo turco de promover uma ``guerra não-declarada contra os curdos".
``Imagine: eu sou curdo, falo curdo, fui criado nos costumes curdos, nas tradições curdas e, se for pego falando curdo na Turquia, posso ficar até dez anos preso acusado de ser separatista", afirma.
Aydin diz que saiu ilegalmente do país, sem passaporte, da cidade de Hezo. Buscou refúgio na Suíça, onde começou a fazer um curso de francês.
Foi quando encontrou a brasileira Claudene Milhomem Carneiro, que fazia mestrado em Direito na Universidade de Genebra, e se casaram.
Os olhos de Aydin brilham quando ele mostra fotos do Curdistão, onde aparece com turbantes e faixas de cintura típicos da indumentária curda.
Aydin não pensa em voltar até porque não poderia. Sua atenção hoje está dividida entre os pratos típicos que seu restaurante oferece e a captação de clientes para uma comida sem tradição no Brasil.
Em tempo: o que mais sai é o ``perde pilaw", um prato que leva arroz temperado com finas ervas, passas e amêndoas amanteigadas, servido com frango oriental. Custa R$ 5,50.
(VA e BB)

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