São Paulo, domingo, 6 de agosto de 1995
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Austríaca, 77, vive com R$ 32

VICTOR AGOSTINHO; BETINA BERNARDES
DA REPORTAGEM LOCAL

Se fosse filme, seria tragédia. Mas o sempre presente sorriso no rosto de Ivanka Hvala Lima, 77, atenua o triste relato de vida desta refugiada da Segunda Guerra Mundial.
Ivanka, chamada pelos vizinhos do bairro de Santa Cecília (região central de São Paulo) de Joana, nasceu na Áustria. Adolescente, mudou-se para a Itália.
Casou e teve quatro filhos. Veio a guerra e sua casa foi bombardeada. Morreram marido e três filhos.
Na fuga dos bombardeios, no meio da mata, sua única filha viva foi picada por uma cobra. Também morreu.
Desesperada, sem saber para onde ir, Ivanka acabou num campo de refugiados em Salerno (Itália), onde viu a guerra acabar e onde também ficou quase nove anos. No campo conheceu um húngaro e casou com ele.
``Os americanos pagaram uma passagem para nós até a Bolívia. Mas lá era muito ruim e viemos para o Brasil em 1956", conta Ivanka que, ao chegar ao Brasil, trabalhou como cozinheira e empregada doméstica.
Assim como Ivanka, há na relação do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur) outras 38 pessoas cadastradas no Brasil, que se mantêm juridicamente na condição de refugiadas de guerra.
Depois que o segundo marido de Ivanka morreu, em 1978, com medo de ser deportada, Ivanka casou-se ``com um tal Raimundo Lima", brasileiro, que se dispôs a ajudá-la.
Foi um casamento do tipo ``despede-se no cartório": ela nunca mais o viu.
Aos 77 anos, Ivanka vive com os R$ 32,00 que recebe do Acnur. Mora numa pensão e ``paga" comida e cama, num quartinho sem janelas, limpando banheiros e a cozinha.
``Estou doente e muito cansada para trabalhar. Queria ir para um asilo, mas eles cobram R$ 200. Não posso pagar", afirmou Ivanka.
O único parente vivo de Ivanka é uma sobrinha que mora na Austrália -para onde sua irmã foi mandada no fim da guerra.
``Cada vez a lista diminui. Eles vão morrendo sem parentes. É muito triste", disse Nathália.
(VA e BB)

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