São Paulo, domingo, 6 de agosto de 1995 |
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'Saí por problemas políticos', diz universitária
BETINA BERNARDES; VICTOR AGOSTINHO
Flávia morava na região das montanhas andinas no Peru. Era estudante universitária e militante política. ``Não podia continuar lá. Estava sendo perseguida e corria perigo de vida." Os motivos da perseguição ela não conta. Indagada sobre um possível envolvimento com a guerrilha, não confirma nem desmente. O presidente do Peru, Alberto Fujimori, fez da luta contra os guerrilheiros do Sendero Luminoso, de orientação maoísta, um dos principais objetivos de seu governo. ``Comecei na militância política aos 19 anos. Nessa idade, a gente se envolve e não questiona muito", diz. Flávia é mãe solteira. O filho está no Peru. ``Minha situação lá ficou insustentável e tive que pedir refúgio no Brasil." Ela veio sozinha para o país. ``Minha adaptação foi muito difícil e dolorosa", conta. ``Era ruim no começo, fui educada de uma forma muito diferente, a cultura daqui é outra." A refugiada diz que a falta de preconceitos e tabus foi uma das coisas que mais a impressionaram. Ela morou com um amigo até conseguir um quarto. ``As pessoas no Brasil são abertas, gostam de falar. Lá nas montanhas, o povo é mais reservado, fechado." ``Me sentia vegetando. Só via TV, não saía, não falava com ninguém. É muito ruim, você sente carência de tudo, de afeto, de material, de aspirações." Flávia conta que não falava português e aprendeu lendo o noticiário local sobre seu país. Chegou a prestar vestibular neste ano e passou, mas não pôde se inscrever porque sua documentação não estava pronta. ``Tudo dava errado, me sentia desesperada. Acho que só consegui superar tudo isso por causa do meu filho", afirma. Flávia pretende trazer o filho para o Brasil mais tarde, quando estiver em melhores condições. ``Não posso dizer que tenha me arrependido do que fiz, porque seria renegar uma parte importante da minha vida. Mas estou filtrando tudo o que é bom e o que é ruim em toda essa experiência política, para ficar só com as coisas boas." (BB e VA) Texto Anterior: Refugiados já estão há quase um ano no país Próximo Texto: Estado incentiva criação de superestradas Índice |
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