São Paulo, domingo, 6 de agosto de 1995
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BC defende o novo perfil dos fundos

JOÃO CARLOS DE OLIVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Mesmo no governo não há consenso sobre a nova estrutura dos fundos de investimento, que passa a vigorar em 1º de outubro.
Alguns integrantes da equipe econômica querem alterar as regras desde já, apurou a Folha.
O governo pretende alcançar dois objetivos com os novos fundos: 1) separar o dinheiro que será gasto no curto prazo da chamada poupança financeira (dinheiro que pode ficar aplicado por um período mais prolongado de tempo); 2) alongar o prazo das aplicações.
Ocorre que, da forma como foram estruturados, os novos fundos vão perder competitividade (render menos) para CDBs e poupança.
Na prática, portanto, com a migração esperada para esses ativos, o grosso dos recursos continuará sendo aplicado no prazo máximo de 30 dias.
``Se alguma mudança tiver de ser feita, o BC nunca vai se furtar de fazê-la", diz o diretor de Normas do BC (Banco Central), Cláudio Mauch.
Ele, porém, pondera que o ``o novo perfil dos fundos está bom. Não dá para, a priori, fazer modificações. Vamos ver como eles funcionam."
Mauch traça um cenário diferente para a migração dos recursos. Para ele, se houver a procura esperada pelos CDBs, as taxas de juros pagas devem cair.
Em consequência, a remuneração da poupança também baixaria (a TR é calculada com base nos juros pagos pelos CDBs).
Esses dois movimentos acabariam, segundo Mauch, aumentando a competitividade dos novos fundos.
O diretor do BC não soube, porém, explicar que tipo de aplicação os administradores dos fundos fariam para compensar a queda dos juros dos CDBs.
Pelas novas regras, os fundos não podem ter nenhuma ação em carteira, somente aplicações de renda fixa (que pagam juros).
Essa regra vai implicar a venda das ações que estão hoje na carteira dos atuais fundos -especialmente os de commodities.
Segundo avalia o mercado, o percentual não é grande, cerca de R$ 450 milhões. Logo, a venda dessas ações não deve ter um impacto baixista nas Bolsas.
Indagado sobre quem será o ator principal do processo de alongamento, se o investidor ou o administrador do fundo, Mauch afirma que, embora concorde que o processo de alongamento vai exigir confiança, cabe ao governo induzi-lo.
É que, para ele, não existe mais, como no passado, a necessidade da liquidez diária porque a inflação caiu.
Para ele, a liquidez diária virou vício. ``É o mesmo caso do sujeito que deixou de fumar e continua com o cigarro na boca".
``Não existe em lugar nenhum do mundo um produto que garanta, ao mesmo tempo, a melhor rentabilidade, liquidez e segurança", afirma o diretor, que completa: ``A liquidez absoluta (poder sacar o dinheiro a qualquer momento) tem de ter um preço."
Na nova estrutura, o preço é estabelecido por meio de um compulsório. De cada R$ 100 aplicados no novo fundo de curto prazo, R$ 35 vão ficar depositados no BC sem nenhum rendimento.
Nos novos fundos de 30, 60 e 90 dias, o percentual depositado compulsoriamente cai gradualmente. No de 30 é de 10%; no de 60, 5%; no de 90, é zero.
(JCO)

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