São Paulo, domingo, 6 de agosto de 1995
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Varejo enfrenta teste de competitividade

MARCOS GOUVÊA DE SOUZA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Erramos: 08/08/95
Existe relação entre os problemas vividos por algumas empresas brasileiras de varejo e as transformações que estão ocorrendo no mercado global?
Os problemas enfrentados pela Casa Centro, Pernambucanas e Mesbla, do Rio de Janeiro, podem ser considerados o prenúncio de um período de mudanças radicais no setor varejista nacional?
A exemplo do que ocorre em outros segmentos empresariais, o varejo internacional está sendo submetido a um quadro sem precedentes de competitividade e, em consequência, de concentração dos negócios.
No segmento de lojas de departamentos nos EUA, 75% de todo o mercado está nas mãos de três empresas: Wal-Mart, Kmart e Target. Na França e na Inglaterra, as seis maiores redes de supermercados detêm perto de 60% de participação no setor. Sozinha, a rede norte-americana Toys ``R" US detém 25% do movimento de vendas no mercado de brinquedos.
Como consequência desse quadro, apimentado pelo aumento da carga legislativa, proteção às práticas comerciais e também das previsões de crescimento das economias dos países mais desenvolvidos, os grupos varejistas norte-americanos, europeus ocidentais e japoneses têm buscado mercados emergentes, menos congestionados e com melhor rentabilidade.
É por essa razão que o Carrefour preferiu fechar suas duas lojas nos EUA e focar outras regiões, entre elas a América Latina. Mesmo caminho trilhado anteriormente pela Makro, que fechou 14 lojas naquele país.
Pelo mesmo motivo, empresas como a JC Penney, Sears, Price-Costco, Printemps, Hipermercados Continente, entre outras, estão hoje pesquisando e analisando a possibilidade de vir a atuar no Brasil -preferencialmente associadas a grupos empresariais locais.
A síntese sobre o mercado varejista local é singela: a competitividade dos países mais desenvolvidos espalha-se e impõe uma nova ordem no varejo local, em decorrência, principalmente, da importância dos avanços na área de tecnologia e abastecimento global, geradores de vantagem competitiva para o setor.
Os acontecimentos recentes no Brasil não podem ser considerados uma antecipação do que poderá vir a ocorrer, pois não existe relação causal entre o quadro internacional e o interno.
O que ocorreu com as três empresas brasileiras tem origem e causa distintas do que se verifica no quadro internacional, porém com o mesmo potencializador de problemas: menor nível de crescimento da demanda associado a inexpugnáveis taxas de juros e ainda aumento da estrutura de custos e redução da rentabilidade bruta.
É também necessário mencionar as consequências da pressão do setor financeiro, assustado com o nível de inadimplência do mercado. Um coquetel verdadeiramente explosivo.
O que pode haver de comum entre os três casos é que nenhum dos problemas é recente. Atual é a dificuldade de se encontrar uma solução em meio ao furacão.
Não se trata de discutir se os formatos praticados pelas empresas estavam se tornando obsoletos. A Mesbla vinha promovendo seu reposicionamento, orientando-se para a moda, na trilha percorrida por empresas internacionais de sucesso, como a JC Penney.
Para as Pernambucanas, o próprio fato de o braço da administração paulista do grupo estar colhendo resultados expressivos insinua que o problema foi, fundamentalmente, de gestão. Isso também reconhecido na Casa Centro.
Os acontecimentos precipitam-se, nesse momento, em função da velocidade de mudanças nas regras do jogo do mercado aberto, no alto preço pago pelos erros do passado e no equilíbrio frágil de algumas empresas.
A consequência maior disso, somados os vetores internos e externos, é a perspectiva de uma revolução no setor varejista nacional nos próximos anos, com a substituição ou associação de parte dos atuais jogadores, novas práticas comerciais e novos formatos de varejo ingressando no mercado.
Uma das alterações que esse quadro gera é o surgimento e expansão de modelos de lojas que ofereçam variedade e alternativas de escolha para o consumidor global, cada vez mais satisfeito e demandando maior conveniência.
São exemplo dessa tendência os formatos conhecidos como ``aniquiladores de categorias", que oferecem variedade tão exuberante que acabam por aniquilar a concorrência direta.
Apesar, ou devido a isso, teremos maior crescimento do setor comercial na sua participação no PIB (Produto Interno Bruto).
No varejo real brasileiro se fará, de fato, uma transformação de 50 anos em cinco.

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