São Paulo, domingo, 6 de agosto de 1995 |
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Indústrias e revendedores disputam alíquota
ANTONIO CARLOS SEIDL
Colocar a indústria nacional sob uma redoma ou submetê-la à competição de novos produtos, principalmente os fabricados na Ásia, eis a divergência. ``Toda criança tem o direito de ter um brinquedo Estrela", diz uma antiga propaganda da indústria de brinquedos líder do país. ``Toda criança tem o direito de ter um brinquedo", contrapõe, na era da abertura às importações, o lojista Ricardo Sayon, presidente da Abreb (Associação Brasileira dos Revendedores de Brinquedos). O conflito entre indústria e comércio foi deflagrado pela ``invasão" de brinquedos da China no mercado nacional. Mario Adler, que é presidente dos conselhos de administração da Estrela e da Abrinq (Associação Brasileira da Indústria de Brinquedos), diz que os produtores nacionais sofrem ``concorrência desigual" dos fabricantes chineses. Ricardo Sayon acusa a indústria de ``protecionista". Reconhecendo o papel primordial da Estrela no desenvolvimento da indústria de brinquedos no Brasil, Sayon diz, porém, que defende as importações para dar às crianças o ``direito a uma variedade maior de brinquedos" a preços mais baixos. No centro da discórdia está a questão da redução das alíquotas de importação de brinquedos. Dentro da política de abertura comercial do país, a alíquota caiu de 85% em 90 para 35% em 93 e para 20% em setembro de 94. No início de junho, a Abrinq encaminhou ao governo um pedido de salvaguarda (elevação de alíquotas ou imposição de cotas) contra as importações da China. A Secretaria de Comércio Exterior do MICT (Ministério da Indústria, Comércio e Turismo) já está apurando se a indústria nacional de brinquedos sofre, conforme afirma, concorrência ``desigual" dos importados. A indústria quer um aumento das alíquotas para um nível entre 55% e 70%. O comércio defende a atual taxa de 20%. O pleito da indústria é baseado no decreto 1.488, de maio de 1995, que prevê a aplicação de medidas de salvaguarda quando o aumento de importações causa ou ameaça causar ``prejuízo grave" à indústria nacional. A Abrinq argumenta que o baixo custo da mão-de-obra da China impede a indústria nacional de concorrer em igualdade de condições. Adler, que já visitou as fábricas de brinquedos na China, diz que a situação dos operários é ``um abuso do ser humano". Segundo Adler, os operários chineses ``recebem salários miseráveis, trabalham 16 horas por dia, de segunda-feira a sábado, têm apenas 15 dias de férias e as empresas não pagam impostos sobre matérias-primas e nem recolhem encargos sociais". Ele afirma que é por isso que um bicho de pelúcia chinês pode custar apenas US$ 1,62 para um importador no Brasil. A Abrinq quer a proteção porque ``o perigo chinês" (mão-de-obra barata) se alastra para a Malásia, Tailândia e Indonésia. Ricardo Sayon, que além de dirigir a Abreb é dono da rede de lojas de brinquedos Ri Happy, diz que qualquer medida de salvaguarda é ``uma inconveniência". Citando dados da Secretaria de Comércio Exterior, Sayon afirma que a própria indústria foi responsável pela solicitação de 58% do total de US$ 121 milhões das importações autorizadas em 1994. ``Cerca de 63% do total das importações de 94 foram solicitadas por empresas da Zona Franca de Manaus, onde estão várias indústrias que lideram o setor." Sayon afirma ainda que o aumento das alíquotas é um incentivo ao contrabando. Com a redução das alíquotas, diz Sayon, citando dados da própria Abrinq, o contrabando caiu em 50%: de US$ 120 milhões em 93 para US$ 60 milhões em 94. ``O pleito da Abrinq é absurdo porque favorece a formação de um cartel de produtores contra o consumidor, que quer produtos de qualidade e com preços baixos." Texto Anterior: Empresário era 'camponês perseguido' Próximo Texto: Importador ganha volume Índice |
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