São Paulo, domingo, 6 de agosto de 1995
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O pessoal agradece

JOÃO CARLOS DE OLIVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Voltaram a entrar dólares. Nada contra. É bom. Gustavo Franco, o viajante diretor do BC, sorriu.
Voltaram a entrar dólares e o BC comprou. O BC trocou, com exportadores e investidores estrangeiros, dólares por reais.
Depois, a pretexto de ``enxugar" a excessiva emissão de reais, o BC vendeu títulos.
Dizem que é inevitável. Quando se aumenta a oferta de dinheiro, a inflação sobe.
Não explicam como a inflação, daqui para frente, pode subir em meio a um intenso processo de desova de estoques combinado com inadimplência e desaquecimento da atividade.
Não explicam também como é possível ``enxugar" a liquidez (tirar reais de circulação) se o mesmo BC garante a recompra automática e diária dos títulos.
Nem a inflação vai subir -a trajetória é de queda- nem o BC ``enxugou" qualquer coisa.
O que o BC fez foi outra coisa. O BC forneceu lastro (garantia).
Segundo levantamento do mercado, por trás dos dólares que estão entrando existem pelo menos quatro operações distintas:
1) reestruturação de dívida (trocam-se dívidas em reais e de curto prazo por dívidas em dólares de longo prazo; é mais barato);
2) repasse de recursos para as empresas captados pelos bancos no exterior;
3) captação de recursos no exterior para tornar o financiamento ao consumidor mais acessível (civilizado) -é o caso típico do que está acontecendo com os carros;
4) arbitragem com a taxa de juros.
O último item corresponde a 40% dos ingressos, avaliam.
Arbitrar, no caso, é ganhar. O Brasil paga um dos juros mais altos do planeta.
Basta, portanto, captar recursos no exterior, pagando juros civilizados, e aplicar os recursos no incivilizado juro brasileiro.
Mas dinheiro, para render, tem de estar aplicado -caso contrário, bastava colocar debaixo do colchão.
A operação é sempre garantida (lastreada) por algum título que pague juros. O BC tem fornecido. O pessoal agradece.

Hoje, excepcionalmente, deixamos de publicar o artigo de LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS.

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