São Paulo, domingo, 6 de agosto de 1995
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Megafusões mostram uma estratégia nova e arriscada

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

``Eu tenho absoluta confiança de que um mais um será igual a quatro", disse o presidente da Walt Disney Corporation, Michael Eisner, ao anunciar a compra da rede ABC de televisão por US$ 19 bilhões esta semana.
O negócio, além de ter sido a segunda mais valiosa aquisição de empresas na história dos EUA e de ter transformado a Disney na maior companhia da indústria de entretenimento do país, tem outro simbolismo.
Ela é a maior aposta que alguém já fez na teoria gerencial conhecida como ``integração vertical". A compra da rede CBS pela Westinghouse por US$ 5,4 bilhões veio reforçar ainda mais o prestígio imediato da teoria.
Eisner, de 53 anos, está jogando tudo no princípio do ``um por todos, todos por um", a que ele também se referiu ao anunciar o meganegócio.
A Disney vai produzir programas que vão ser colocados no ar pela ABC, vender os vídeos desses programas, usar sua experiência em hotelaria para criar bares onde vão ser exibidos jogos transmitidos pela ESPN, da ABC.
Na Disneyworld e nos outros parques de diversão da empresa (um dos próximos ele pretende instalar no Brasil para explorar a má consciência ecológica mundial) vão ser vendidos bonecos, camisetas e produtos inspirados nos filmes e séries.
E a coisa parece não ter mais fim: Eisner está comprando imóveis na Broadway em Nova York para explorar cinemas e teatros e já iniciou o processo de aquisição do Rockfeller Center.
Mas a história recente das megafusões, pelo menos na indústria do entretenimento nos EUA, recomenda alguma cautela para conter a euforia.
Fundir grandes empresas não é tarefa das mais fáceis. O choque das culturas internas de cada uma delas pode às vezes ser tão traumático quanto o que ocorre quando uma nação ocupa outra.
Em especial numa situação como Disney e ABC. As duas são casos de sucesso e têm estilos de administração opostos.
A ABC não está caindo pelas tabelas. Ao contrário, é a líder do seu ramo da indústria.
O jeito Disney de gerir negócios é muito mais bruto do que o da ABC, que também é mais conservadora do que a Disney.
Até que ponto esse confronto será contido, é algo a se verificar.
Mas, com certeza, a Disney e a Westinghouse vão ter problemas sérios com o endividamento que tiveram de fazer para comprar ABC e CBS.
A Westinghouse aumentou em US$ 5 bilhões sua dívida que já beirava os US$ 4 bilhões e a Disney tomou empréstimos de US$ 10 bilhões para as compras.
A Time-Warner, que até sete dias era a número um da indústria, ainda não conseguiu pagar os US$ 14 bilhões emprestados em 1989 para sua fusão.
Ao contrário, agora deve US$ 18 bilhões, em parte porque tem enfrentado nestes oito anos muitos problemas de adaptação em áreas da indústria para as quais não estava preparada, em especial a TV por cabo.
Apesar dos ``sinais amarelos" que começam a se acender no caminho de Disney e Westinghouse, a tendência continua a ser a de consolidação da integração vertical no setor.
Muitos crêem que o próximo lance será a fusão da Time-Warner com a NBC, a única grande rede de TV não vendida esta semana.

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