São Paulo, domingo, 6 de agosto de 1995
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Poupador ainda duvida de nova aplicação

RODRIGO AMARAL
DA REPORTAGEM LOCAL

Enquanto o governo aposta que a carência de financiamentos habitacionais incentivará a classe média a ingressar na poupança vinculada, o mercado imobiliário e os próprios poupadores encaram a novidade com reservas.
Colaboram para esse ceticismo, entre outros motivos, as regras definidas pelo Banco Central.
O presidente do Conselho Regional dos Corretores de Imóveis (Creci), Roberto Capuano, acredita que o prazo mínimo de três anos de depósitos e a exigência de 50% do crédito poupado tornarão a aplicação inacessível às populações de baixa renda.
``A poupança vinculada não vai resolver o problema habitacional, resumindo-se a mais uma opção para o mercado financeiro", diz.
O Creci quer que as cartas de crédito sejam liberadas após seis meses de depósitos, com um saldo economizado equivalente a 10% do valor do imóvel.
Por outro lado, o professor Keyller Carvalho Rocha, da Faculdade de Economia e Administração da USP (FEA-USP), não acredita que os bancos se interessem em oferecer a aplicação.
``As novas regras para as aplicações financeiras tornaram a caderneta de poupança atraente por si própria, sem precisar da vinculação", argumenta.
Ele acha também que, como a remuneração é a mesma para as duas formas de poupança, a tradicional será mais procurada por não exigir depósitos fixos e permitir maior liberdade para os saques.
Um terceiro problema é a desconfiança dos poupadores. A falência do Sistema Financeiro de Habitação e o confisco da poupança pelo governo de Fernando Collor de Mello, em 90, alimentam a insegurança da população.
Por exemplo, o sonho da casa própria do médico Raimundo de Alencar Jr., 40, e sua mulher, Marlene, 40, foi por água abaixo com o confisco de 1990.
``Tínhamos o suficiente para dar entrada em um apartamento. Quando o dinheiro foi devolvido, não pudemos nem comprar um carro", diz Marlene.
Hoje, eles já pensam em abrir uma conta da poupança vinculada. ``Mas o governo deve garantir que a nova aplicação vai funcionar", reivindica Alencar Jr.
O casal paga R$ 1.500 pelo aluguel de um apartamento de três quartos na Aclimação (zona sul).

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