São Paulo, domingo, 6 de agosto de 1995
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TRECHOS

SHERWIN B. NULAND

Entre criaturas vivas, morrer e deixar o palco é o jeito da natureza: a velhice é a preparação para a partida, a saída gradual da vida que torna seu final mais palatável, não só para os idosos, como também para aqueles a quem eles confiam o mundo.
Não estou discutindo aqui contra uma velhice ativa e recompensadora. Não advogo uma ida pacífica para a noite envolvente da senilidade prematura. Até que se torne impossível, vigorosos exercícios de corpo e mente magnificam cada momento de vida e impedem a separação que faz com que um grande número de nós se torne mais velho do que é. Falo apenas da vaidade inútil que jaz nas tentativas de afastar as certezas que são ingredientes da condição humana. (...)
Quando se aceita que existem limites claramente definidos para a vida, então se verá que a vida possui simetria também. (...) O fato de que há um certo tempo limitado para fazer as coisas recompensadoras em nossas vidas é o que cria a urgência de fazê-las. Caso contrário, poderíamos estagnar na procrastinação.
O criador da forma literária que chamamos de ensaio, o francês Michel de Montaigne, do século 16, era (...) um cético. Em seus 59 anos, ele pensou muito na morte e escreveu sobre a necessidade de aceitar cada uma de suas várias formas como sendo igualmente natural: ``Dê lugar aos outros, assim como outros deram lugar a você".
Montaigne acreditava, naquela era violenta e incerta, que a morte é mais fácil para aqueles que, durante a vida, deram mais pensamento a isso, como se sempre estivessem preparados para sua iminência. (...) A partir dessa filosofia, cresceu sua afirmação: ``A utilidade de viver consiste não no tamanho dos dias, mas no uso do tempo; um homem pode ter vivido muito tempo e, mesmo assim, ter vivido apenas um pouco".

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