São Paulo, domingo, 6 de agosto de 1995
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Veja como explode uma arma nuclear

RICARDO BONALUME NETO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Para fazer a bomba, o maior problema dos americanos não foi a teoria, mas a mais mundana tarefa de obter a matéria-prima, o chamado material que poderia sofrer fissão nuclear, ou a divisão do núcleo do átomo.
A bomba de Hiroshima, ou bomba atômica, como foi primeiro conhecida, baseia-se no que acontece no núcleo especial de alguns átomos, as partículas básicas que constituem a matéria.
O material que pode sofrer fissão existe em quantidade pequena na natureza. O processo de fabricação do combustível nuclear, para reatores que geram eletricidade, como os de Angra dos Reis (RJ), ou para bombas, consiste em ``enriquecer", aumentar, a proporção do material que pode sofrer fissão.
É o caso do núcleo dos átomos de certos elementos químicos, como urânio e plutônio; daí vem a expressão ``energia nuclear".
Esse núcleo pode ser partido ao ser bombardeado com certas partículas nucleares, os nêutrons. O resultado são dois outros elementos e energia, muita energia.
Aquele que quiser fazer uma bomba, terá de utilizar um dos dois únicos elementos físseis.
O urânio que pode sofrer fissão, entre seus diferentes tipos (isótopos), é o que tem peso atômico igual a 235. No caso do plutônio, ele precisa ter peso atômico 239.
Para uma bomba razoável, uma mini-Hiroshima, bastam uns 8 quilos de plutônio-239. Com urânio-235, precisa-se de mais, algo como 25 quilos.
Em compensação, a bomba de urânio-235, como era a de Hiroshima, é mais fácil de fazer.
A idéia básica é criar a chamada reação em cadeia não-controlada, quando um material físsil começa a se dividir rapidamente.
Um átomo dividido provoca a divisão de outros átomos, causando a explosão.
O grande marco na produção da bomba foi quando cientistas do projeto Manhattan (da bomba) fizeram, em 1942, a primeira reação em cadeia controlada.
Para a bomba de urânio explodir, basta detonar um explosivo convencional que arremesse uma parte do material físsil na outra.
A bomba de plutônio exige que a explosão seja exatamente direcionada contra o elemento que sofre a divisão, de modo a provocar reação descontrolada com o aumento da pressão.
As chamadas bombas de hidrogênio ou ``de fusão" são bem mais complexas e poderosas. Usam outro tipo de reação nuclear, aquela que funde núcleos leves, como os de hidrogênio.
Geralmente a ``espoleta" da bomba é uma bomba atômica, de material físsil, o que dá uma idéia do seu poder maior, de dezenas ou mesmo centenas de bombas como a de Hiroshima.
Os arsenais russo e americano têm bombas de modelos variados, que combinam os dois princípios.
Cerca de 15% da explosão de uma bomba vêm na forma de radiação, isto é, de modo geral, partículas atômicas energizadas que podem afetar organismos vivos.
Mortes por radiação foram cerca de 10% das vítimas iniciais nas cidades japonesas atacadas em 1945.
Na prática, a maior parte da energia da bomba vem na forma de calor e de uma onda de choque muito forte.
Depois da explosão, também surge um subproduto característico, as partículas radiativas, na forma de uma poeira contaminada. Em certos casos, ela mantêm o perigo por muito tempo.
(RBN)

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