São Paulo, domingo, 6 de agosto de 1995
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Semestre mais caro

Há consenso de que o segundo semestre será muito mais árduo para o governo, no que se refere à aprovação de suas iniciativas pelo Congresso, do que o mar de rosas em que navegou no primeiro.
É natural que seja assim. Basta lembrar que o único recuo do governo na primeira parte do ano se deu na questão da reforma previdenciária, enviada ao Congresso, mas logo posta em hibernação.
Era a única das grandes reformas que tinha incidência direta e imediata sobre a vida da população. Não que as demais fossem irrelevantes. Ao contrário: a quebra dos monopólios, a eliminação da distinção entre empresas nacionais e estrangeiras, entre outros, são temas de importância macroeconômica. Mas, ao contrário da Previdência, seu efeito sobre o cotidiano da maioria das pessoas é indireto e de médio ou longo prazo.
No segundo semestre, os grandes temas são exatamente aqueles que mexem com a vida de cada cidadão. Além da reforma da Previdência, o governo pretende promover uma reforma tributária. Em qualquer país do mundo, impostos são um tema extremamente sensível.
Pretende também implementar uma reforma no aparelho de Estado, o que afeta uma corporação, a dos funcionários públicos, que tem se revelado de enorme poder de pressão sobre os congressistas.
O fato de que as dificuldades aumentarão não significa necessariamente que o governo esteja na iminência de sofrer graves derrotas. Conhecido o modo de fazer política no Brasil, o mais razoável é supor que as dificuldades apenas aumentarão o preço a pagar para obter a aprovação dessas propostas.
A moeda de troca tende a ser o preenchimento de cargos por solicitação e indicação de parlamentares, o atendimento a necessidades miúdas de deputados e senadores governistas e assim por diante.
Pode-se e deve-se lamentar tais práticas, mas seria ingenuidade suprema desconhecer como se faz esse jogo. A questão é assegurar que o preço a ser cobrado não ultrapasse os limites do tolerável.

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