São Paulo, domingo, 6 de agosto de 1995
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O Barbeiro de Sevilha; Verbas secretas; Pesquisadores na Itália; Aids e romance; Corintiano dalém-mar; Texto exuberante; Desigualdade social; A história, finalmente

O Barbeiro de Sevilha
``Lendo a Folha de 4/8, senti-me utilizado para a defesa de um problema com difíceis possibilidades de defesa. Lembrei-me de minha época de faculdade, em especial da cadeira de ética. No período de dois anos, sete meses e quatro dias longe da administração do Departamento de Teatros/Teatro Municipal de São Paulo, não emiti nenhuma opinião pública sobre sua atual administração. Não por falta de motivos, mas por não me achar no direito, já que não tinha os detalhes internos, de emitir qualquer opinião. A carta do sr. Rodolfo Konder parece carecer de memória. A ópera `Il Trittico' foi primeiro montada em São Paulo (sete récitas em novembro de 92), com absoluto sucesso de público e crítica. E custou muito menos que a atual montagem do Rio. Na época, sr. secretário, só utilizamos cantores residentes em São Paulo e principalmente dos corpos estáveis do teatro, em idêntica montagem cênica."
Emilio Kalil, presidente da Fundação Theatro Municipal do Rio de Janeiro (Rio de Janeiro, RJ)

Verbas secretas
``Na reportagem `Governo gastou R$ 1,4 mi de verba secreta' (pág. 1-9, 25/7), o repórter afirma que a Escola Técnica Federal do Ceará `gastou R$ 665,00 da verba secreta do governo federal para o pagamento de serviços sigilosos referentes à reprodução e envelopamento dos resultados de seu exame de seleção'. Ora, na verdade o gasto foi feito, mas com relação à elaboração das próprias verbas que se realizariam -e se realizaram- em junho deste ano. Há de se convir que os serviços referentes à realização de um exame de seleção só podem ser efetuados sob forma sigilosa, para evitar `vazamento' de assuntos das provas. A direção da ETFCE acrescenta que esses gastos, assim como todos os demais nesta instituição, entram na prestação de contas do governo federal e salienta que a lisura de nossos atos já foi reconhecida mediante os certificados de regularidade de contas, oriundos de Mec/Ciset/Coaud, datados de 15/3/95 e 12/6/95."
Franco de Magalhães Neto, diretor geral em exercício da Escola Técnica Federal do Ceará (Fortaleza, CE)

Pesquisadores na Itália
``Desde o início de 1994 bolsistas brasileiros têm enfrentado problemas para a obtenção da autorização de permanência de seus dependentes na Itália. Esse problema se deve a uma brecha no acordo cultural entre os dois países, que não menciona a concessão de vistos, nem mesmo para o bolsista. A situação talvez se resolva na próxima renovação do acordo, mas até que isso ocorra existem vários bolsistas e dependentes de bolsistas passando por situações constrangedoras, inclusive vivendo na clandestinidade. Como tal problema não ocorre com bolsistas italianos que porventura venham ao Brasil, é claramente uma quebra do acordo de reciprocidade entre os dois países. Além disso, os bolsistas são mantidos pelo governo brasileiro e não acarretam nenhum ônus para o governo italiano, muito pelo contrário, o trabalho de pesquisa desenvolvido reverte para a instituição onde é realizado e para o grupo de pesquisa ao qual o bolsista está vinculado. A solução estaria em uma ação mais determinada por parte do Itamaraty e das agências financiadoras (CNPq, Capes, Fapesp etc.), convocando os embaixadores e solicitando uma solução imediata para o problema."
Jeferson J. Arenzon (Nápoles, Itália)

Aids e romance
``Gostei do editorial `A alma feminina' (Folha, 3/8), sobre portadoras do vírus HIV. Tem sido uma realidade trágica para as mulheres, envolvidas amorosamente com um homem, marido ou não, a não-exigência do uso do preservativo. Geralmente a mulher, quando se envolve romanticamente, idealiza o parceiro, dispensando o preservativo. Entretanto a dificuldade na exigência do preservativo tem também muito a ver com a dificuldade da mulher em negociá-lo, com o medo de perder o parceiro e com sua situação, muitas vezes, de dependência financeira. É premente trabalhar, na mídia, essas questões, sem ficar incensando o romantismo `natural' feminino, atualmente caminho para a morte. Mesmo com lindos versos shakespearianos."
Marta Suplicy, deputada federal pelo PT-SP (Brasília, DF)

Corintiano dalém-mar
``Excelente o especial sobre os finalistas do Paulistão no último domingo. Para os corintianos residentes no exterior, a cronologia dos títulos paulistas conquistados, bem como as escalações das equipes, são para guardar debaixo do travesseiro e sonhar com a conquista do título de 1995. Se o juiz deixar."
José Estefanio L. Monteiro (Porto, Portugal)

Texto exuberante
``Li a Revista da Folha de 16/7 e me encantei com a crônica de Marilene Felinto `Negozinho fala meerrmo'. Que maravilha! Raras vezes me defrontei com um texto tão enxuto, condensado, carnudo, exuberante e inteligente. Acho que a Folha não brinca quando contrata seu pessoal. Isso explica o crescimento tremendo da tiragem."
Oswaldo Ramos (São Paulo, SP)

Desigualdade social
``Importante a divulgação pela Folha do relatório do Banco Mundial sobre a desigualdade social no Brasil. O presidente da República afirma que `medir miséria é imoral' e que, possivelmente, o `relatório não expressa a realidade'. O presidente tem razão. São dados de 89, e a realidade de hoje deve ser pior, com tendência a agravar-se, como em todos países latino-americanos que seguiram de modo acrítico as receitas econômicas do FMI."
José Aristodemo Pinotti, deputado federal pelo PMDB-SP (São Paulo, SP)

A história, finalmente
``Encaminhamos recentemente carta aberta ao presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, e ao ministro da Justiça, Nelson Jobim, na qual ressaltamos nossa expectativa quanto ao desenvolvimento das questões que envolvem os familiares de mortos e desaparecidos políticos durante o regime militar. Observamos que a sensibilidade desses governantes não permite que percebam a tênue fronteira que existe entre aqueles que são os mortos e aqueles que são os desaparecidos. Nosso irmão, Flavio Carvalho Molina, durante anos foi considerado um desaparecido, e, somente com nosso esforço e apoio de entidades não ligadas ao governo, obtivemos judicialmente um atestado de óbito com seu nome verdadeiro. Ele passou então da classificação de desaparecido para a de morto, apesar de não termos ainda sepultado seus despojos, que carecem de identificação na Unicamp. A luta na qual ele se engajou foi a mesma de muitos outros brasileiros, dos quais alguns estão desaparecidos porque o teatro, a mágica e a dissimulação foram perfeitos, outros estão mortos porque os truques de alguma forma não estiveram bem ensaiados, e por fim restaram os vivos, que continuam com os mesmos ideais de democracia e justiça -e alguns, até, por coisas do destino, ocupam cargos no poder. A indenização prevista no projeto de lei é importante para nós, porém a apuração completa das circunstâncias reais em que ocorreu sua morte deve prevalecer, pois a versão oficial, com seu roteiro e cenário, nós já conhecemos... E não convenceu."
Gilberto Carvalho Molina, seguem-se mais cinco assinaturas (Rio de Janeiro, RJ)

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