São Paulo, domingo, 6 de agosto de 1995
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O inventor de caminhos

CRISTINA ZAHAR

Vocês conseguiram educá-los?
Toda noite, fazíamos uma fogueira e contávamos histórias para eles, contos de fadas. Eles adoravam. Com isso, fomos catequizando esses homens, para que não atacassem os índios. Perguntávamos a eles se deixariam que invadissem suas terras. Diziam que não. Então, por que seria diferente com os xavantes? Eles nunca atiraram contra os índios.
Quais índios encontraram primeiro?
Os carapawas, suspeitos de terem matado o explorador inglês Peter Fawcett. Achamos a ossada dele, mas até hoje discutem se é ou não a verdadeira. Temos certeza de que é. Os índios o chamavam de "minguelese", porque Fawcett dizia "mim inglês". Quando o filho dele, Jacques, veio ao país, os índios o viram sem camisa e saíram gritando "minguelese". Era sardento como o pai.
O objetivo da expedição mudou?
Quando descobrimos que já havia gente lá, o objetivo passou a ser o mapeamento de pontos para se estabelecer bases aéreas militares. O Ministério da Aeronáutica pediu um campo de pouso na serra do Cachimbo. Naquela época, eu já respondia pela expedição. Foi aí que localizamos o centro geográfico do Brasil, às margens do rio Xingu.
Como vocês estruturaram o parque?
O Xingu fazia parte do roteiro. Foi aí que aliamos o trabalho da expedição à idéia de montar um parque indígena. Jânio criou o Xingu em maio de 1961. Na área, encontramos 18 nações falando nove línguas. Havia tribos arredias. Conseguimos fazer a paz entre eles. Foi o que a Unesco chamou de pequena sociedade de nações, o mais belo mosaico linguístico da América.
Por que o senhor acha que outras reservas indígenas não dão certo?
Porque os governadores acham que o índio é um estorvo.
Se o senhor tivesse que começar de novo, o que mudaria?
Com o conhecimento de hoje, levaríamos a coisa de forma um pouco diferente. Mas ainda achamos que o índio só sobrevive na sua própria cultura. Não há lugar para o índio na sociedade brasileira.

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