São Paulo, segunda-feira, 7 de agosto de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Sem-teto ocupam abrigo há 7 meses

PATRICIA DECIA
DA REPORTAGEM LOCAL

Sete meses depois das enchentes que deixaram 414 famílias desabrigadas em São Paulo, 104 delas ainda estão nos abrigos provisórios, abertos pelas Administrações Regionais de cada bairro em sacolões, escolas e centros esportivos e culturais (leia o quadro abaixo).
Seria preciso construir sete prédios no projeto Cingapura (de verticalização e urbanização de favelas) para abrigar a todos. Até agora, foram inaugurados 34 edifícios.
Nos abrigos, são 691 pessoas morando em cubículos de madeira, usando banheiros e tanques coletivos e sem endereço fixo.
Elas também não sabem quanto tempo mais terão que permanecer no local.
A saída oficial seria recorrer à verba, na verdade uma ``ajuda de custo", de R$ 1.700,00 que a Sehab (Secretaria Municipal da Habitação) utiliza para a aquisição de um novo barraco.
Apenas 47 famílias utilizaram a verba emergencial concedida pela Sehab. Esse é o único ``programa" para a retirada das famílias dos abrigos.
O dinheiro não passa pelas mãos dos desabrigados. Eles precisam localizar um barraco e fornecer o endereço para a secretaria da Habitação.
A nova moradia será vistoriada por engenheiros, e, se não estiver em área de risco, é comprada.
Não podem ser comprados barracos em nenhuma das 14 favelas que fazem parte do projeto Cingapura.
A verba também não pode ser utilizada para o financiamento de lotes.
A reclamação mais comum nos abrigos é de que o dinheiro não é suficiente para a aquisição de um barraco.
``Por R$ 1.700, só encontrei em beira de rio ou barranco", diz Zica Gonçalves de Souza, 32, que saiu da favela do Jaguaré (zona oeste) em fevereiro e está até hoje no Tendal da Lapa.
Ela e o marido, José Bento da Silva, 36, sustentam os dois filhos de 4 anos e 8 meses com os R$ 350,00 que ele ganha como pedreiro.
``No Jaguaré, a gente tinha conseguido erguer a casa de tijolos, agora não temos mais nada."
Os desabrigados do Tendal da Lapa (zona oeste), um antigo matadouro que foi transformado em centro cultural na administração Luiza Erundina, disseram já ter entrado com um pedido para iniciar um mutirão, mas, até agora, não tiveram resposta.
``Nos disseram que vamos ser transferidos para um abrigo na USP (Universidade de São Paulo), quando o pessoal de lá for morar nos prédios do projeto Cingapura que estão sendo construídos lá no Jaguaré", afirma a funcionária pública Márcia Soriano, 37 anos.

Texto Anterior: Prédio de dez andares é implodido no Rio; Estados do Sul registram baixas temperaturas; Ex-chefe do tráfico é morto a tiros no Rio; Carnaval fora de época leva 70 mil às ruas em SE
Próximo Texto: Verba pode ser usada em obras
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.