São Paulo, segunda-feira, 7 de agosto de 1995
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Plano Real diminui negócios com ouro

RODNEY VERGILI
DA REDAÇÃO

A desvalorização do dólar no primeiro ano do Plano Real e os altos juros provocaram desinteresse dos investidores em adquirir ouro e a moeda norte-americana, fazendo com que casas de câmbio fechem as portas no Brasil e até mesmo em países vizinhos, como o Uruguai.
Os especuladores utilizavam-se do sigilo bancário e fiscal do sistema financeiro uruguaio para trazer ouro -sem o pagamento de impostos- de volta para o Brasil.
Sem possuir uma única mina de ouro, o Uruguai era um dos maiores exportadores do mundo do metal precioso (35 toneladas, em 1985), segundo informa Nathan Blanche, presidente da Anoro (Associação Nacional do Ouro e Câmbio), que reúne as empresas que trabalham com ouro.
Blanche estima que, em 1995, o Uruguai não deve exportar mais do que 500 quilos de ouro.
As casas de câmbio do Uruguai eram também importantes fornecedoras de dólar para o mercado paralelo da moeda norte-americana no Brasil.
Os negócios foram diminuindo e as casas de câmbio no Brasil e no Uruguai estão fechando ou diversificando suas atividades, afirma o consultor Najun Turner.
Turner esteve envolvido, em 1992, em um suposto empréstimo para financiamento dos gastos do ex-presidente Fernando Collor, convertendo dólares em ouro.
A cotação do ouro é convertida para reais utilizando-se o dólar como referência. Assim, a desvalorização do dólar pelo Plano Real provocou efeito direto sobre as cotações do ouro.
Os investidores foram, aos poucos, se desfazendo de seus negócios com ouro e dólar para aplicar em renda fixa (por exemplo, fundos de investimento).
O preço do ouro na Bolsa de Mercadorias & Futuros valorizou-se apenas 7,69% neste ano, até a última sexta-feira, contra 23,08% do fundão e 30,46% do fundo de renda fixa.
No Brasil e no Uruguai, os cambistas estão fechando as portas -como foi o caso, no final do mês passado, da Casa Piano, do Rio de Janeiro- ou diversificando suas atividades, passando a trabalhar com o ramo de ``factoring" (empréstimos a empresas) ou mesmo agiotagem.
Alguns bancos brasileiros só não fecharam suas agências uruguaias especializadas no segmento cambial e ouro porque o sindicato dos bancários é forte e garante estabilidade no emprego.
No Uruguai, um bancário só pode ser demitido por justa causa e depois de passar por entrevistas com representantes do sindicato.

Menos operações
O presidente da Anoro, Nathan Blanche, diz que os negócios com o metal foram diminuindo por causa também da carga tributária de 3,5% sobre as operações com ouro no mercado financeiro brasileiro. A carga tributária sobre o ouro exportado como mercadoria é de apenas 1%, afirma ele.
A média diária de negócios com ouro na BM&F (Bolsa de Mercadorias & Futuros) caiu de 2,25 toneladas em 1994 para 573,2 quilos em 1995 (até julho).
Os mercados do dólar paralelo e do ouro estão se esvaziando também por causa da gradual liberalização da economia verificada a partir de 1990.
Foi criado o mercado flutuante do dólar (turismo), que praticamente eliminou as compras da moeda norte-americana no mercado paralelo, por ocasião das viagens ao exterior.
A permissão pelo Banco Central do uso de cartões de crédito internacionais pelos turistas também produziu redução nos negócios com dólar no paralelo, conforme Clarice Pechman, diretora-executiva da Anecc (Associação Nacional de Empresas Credenciadas em Câmbio).
O Banco Central utilizou-se, também, do mercado do ouro da BM&F (Bolsa de Mercadorias & Futuros), a partir de 1990, para reduzir o ágio do dólar no paralelo.
Os negócios diários com ouro passaram de 34,25 quilos em 1986 -ano da fundação da BM&F- para 9,71 toneladas em 1992.
O Banco Central foi, gradualmente, deixando de atuar no mercado de ouro a partir de 1992, pois já havia conseguido reduzir o ágio entre a cotação do dólar no paralelo e a oficial.
Em dezembro de 1989, o ágio do dólar no paralelo era de 150% e, no momento, aproxima-se de zero.

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