São Paulo, segunda-feira, 7 de agosto de 1995
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'Quero falar uma coisa: sou homossexual'

ANTONINA LEMOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Segunda-feira, dia 31 de agosto, 20h30. A.P., 22, assistia com a família à novela da Globo, ``A Próxima Vítima". Na TV, Sandrinho (André Gonçalvez) diz para a mãe, Ana (Suzana Vieira) que é gay.
Na sala, A.P. e a mãe começam a chorar e lembram de uma conversa semelhante, há 4 anos.
A diferença: na novela, tudo fica bem. Ana apóia o filho. Na sala de estar, o pai de A.P. sai batendo a porta e diz que não quer ficar ``ouvindo bobagem".
``Sair do armário" é o momento mais difícil na vida de jovens que se descobrem homossexuais. Assumir a própria opção para os pais e amigos implica culpa, medo de chateá-los e de lidar com o preconceito. Nem sempre a reação é boa.
O grupo gay Atobá, por exemplo, recebe por mês de dez a 15 telefonemas de adolescentes com problemas por terem revelado sua opção sexual.
``Eles ligam desesperados, alguns até são expulsos de casa", diz Raimundo Pereira, 33, vice-presidente do grupo.
A.P. passou por maus momentos quando seu pai descobriu. ``Ele saiu correndo atrás de mim pela rua, querendo me bater", diz o garoto, que à época tinha 18 anos.
Hoje em dia, os dois vivem mal. Pai: ``Você não tem roupa de mulher para vestir?". A.P.: ``Eu me sustento e não preciso de você". Pai: ``Olhe que lindo, seu primo com a namorada no carro. Eu queria tanto um filho assim...". A.P.: ``Olhe que lindo o carro que o tio deu para meu primo. Queria tanto um pai assim...".
Para evitar essas situações, o Mix Brasil (grupo que organiza atividades gays) traduz uma cartilha de psiquiatras e pais americanos, a ``Dá para Entender?", que orienta os pais a conviver com a homossexualidade dos filhos.
Terapia familiar e muito diálogo são outras ``muletas" para ajudar pais e filhos que passaram por um trauma emocional desses.
Alguns passam incólumes. O estilista Alessandro Tierne, 23, é desses. ``Minha mãe me perguntou se eu era gay. Confirmei. Ela ficou chateada. Mas não foi um drama".
Não tocar no assunto pode ser a solução. S., 17, uma garota que se veste de rapaz, a escolheu. ``Disse à minha mãe que beijava as pessoas na boca. Ela perguntou se eram garotos. Disse que eram meninas", diz.
Sua mãe nunca mais tocou no assunto. S. entende o lado da mãe. ``Nunca disse que era homossexual. Para a mãe é difícil aceitar. Ela te ama. Não é legal agredir."

LEIA MAIS
Sobre os adolescentes gays à pág. 6-3

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