São Paulo, segunda-feira, 7 de agosto de 1995
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Cerimônia leva 60 mil ao Parque da Paz

MÁRIO MAGALHÃES
DO ENVIADO ESPECIAL

A cerimônia pelos 50 anos da primeira bomba atômica atirada sobre população civil levou o público recorde de 60 mil pessoas ao Parque da Paz de Hiroshima, de acordo com os organizadores.
A solenidade durou 1 hora e 15 minutos -começou às 7h55 (horário local) e terminou às 9h10.
Às 8h15, horário em que a bomba explodiu em 1945, foi realizado um minuto de silêncio e oração em homenagem às vítimas.
O Parque da Paz é o principal dos 59 monumentos antinucleares existentes em Hiroshima.
A cidade tem hoje 1,1 milhão de habitantes -eram 400 mil em agosto de 1945, incluindo 40 mil soldados estacionados ali.
Milhares de pessoas jogaram incenso ao fogo e depositaram flores no monumento aos mortos, o mais importante do Parque da Paz. Muitos dos participantes choravam.
Uma japonesa tentou agredir, com um leque, fotógrafos que bloqueavam o acesso à sepultura simbólica. No Japão, leques são usados não só por mulheres, mas também por homens.
Às 5h, pelo menos 3.000 pessoas já estavam no parque. A cerimônia foi realizada sob temperatura de 33o C, à sombra. Havia sol e lua cheia.
Dezenas de monges budistas rezaram diante da sepultura. Na abertura da solenidade, foi jogada num lago água proveniente de 16 lugares da cidade, ``em homenagem às almas que se foram por causa da bomba".
A orquestra foi formada por 200 crianças e adolescentes japonesas e estrangeiras. Um coral de 700 estudantes cantou a ``Canção da Paz de Hiroshima".
A artista plástico alemão Stephan Kohler jogou no rio Motoyasu, às margens do qual o parque foi construído, guarda-chuvas coloridos, de cabeça para baixo. O trabalho foi feito com a colaboração de cem jovens de Hiroshima.
Depois da solenidade, houve romaria ao prédio que simboliza a tragédia de 1945, o Bomba-A Dome. Ele é mantido como ficou após o ataque norte-americano, somente com as estruturas de pé.
Moradores mais velhos da cidade passaram a manhã recordando suas histórias.
``Eu estava fora de Hiroshima quando a bomba explodiu", disse Satoyoshi Takenoguchi, 65.
Segundo ele, ``quando eu voltei, dez dias depois, tentei achar a casa onde meus pais e meu irmão viviam, mas não encontrei nada lá além de ossos."
Antes, durante e depois da cerimônia, pessoas choravam por todo o parque. Centenas de mulheres se vestiram de preto, em luto pela morte de parentes em 1945.
(MM)

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