São Paulo, segunda-feira, 7 de agosto de 1995
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Ave, Caesar Fernandus

HÉLIO SCHWARTSMAN

SÃO PAULO - Do século 15 ao 18, era consenso entre os autores que qualquer passagem um pouco mais picante ou que requeresse o uso de palavras vulgares de não importa qual espécie de texto deveria ser escrita em latim, de modo que as mulheres, que em geral não conheciam essa língua, não compreendessem o trecho.
Hoje ninguém mais conhece o latim, sejam homens ou mulheres. Entretanto, diante do que tenho para dizer, e na tentativa de preservar a nobreza desta página, terei de lançar mão do recurso dos antigos e usar essa língua morta, se quiser manter um mínimo de elegância. Prometo, porém, usar um latim tão macarrônico, que, com um pouco de esforço e imaginação, será entendido por homens, mulheres e, quem sabe, até autoridades econômicas. Uma única advertência: não confundir Brasilia (sem acento), o nome latino para designar o Brasil, com a capital federal, muito embora...
``Brasilia terra merdae est. Societas est omnis divisa in partes tres, quarum una -maxime numerosa- pauperrima est; vivit in miseria extrema et manducat (devora) omne excrementum cacatum ab Jove (Júpiter no ablativo) super terram. Secunda pars supervivit difficiliter cum minima dignitate. Sed pars tertia, parvula (pequena) in numero et extreme rapax, sola tenit significantem partem pecuniae Brasiliae. Illa est societati verus parasitus. Miseria primae partis alimentum est tertiae parti.
Administratio Respublicae nihil facit. In thesi `social-democrata', Caesar Fernandus Henriques Cardosus fecit administrationis suae solam basem super politicam `jurorum' elevationis, quae facit pauper pauperrimus et potens potentissimus. Situ non sustentabilis est. Censeo merdam esse divisam plus aeque, vel plus merda gignitur. Inaequalitas delenda est. Non excusatio. Quousque tandem, o Fernande, abutere patientia populi?"
PS - Meu latim foi-se perdendo com o passar dos anos; assim, peço antecipadamente desculpas aos latinistas mais dedicados pelas liberdades tomadas e neologismos perpetrados para tornar o texto minimamente compreensível e também pelos eventuais -e, imagino, numerosos- solecismos. Afinal, até Homero tem os seus cochilos. Não sou Homero, e a madrugada deste domingo avança, firme, fria e serenamente. Lá fora, há gente morrendo.

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