São Paulo, terça-feira, 8 de agosto de 1995
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Comissão quer abrir arquivos militares

VANDECK SANTIAGO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM RECIFE

A Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados vai solicitar ao governo a abertura dos arquivos das Forças Armadas referentes ao regime militar (1964-85).
A comissão discute a proposta do governo federal de indenizar os parentes dos desaparecidos durante o regime militar.
O deputado Fernando Ferro (PT-PE), integrante da comissão, diz que também será solicitado ao ministro da Justiça, Nelson Jobim, o envio da proposta do governo ao Congresso como projeto de lei e não como medida provisória.
``Como medida provisória, a Câmara só terá cinco dias para propor alterações. Como projeto de lei, nós teremos um prazo maior para debatê-lo e ouvir a sociedade", disse o deputado.
Ferro presidiu ontem em Recife (PE) a 3ª audiência pública com parentes de desaparecidos políticos. As outras foram em Brasília (DF) e em Belo Horizonte (MG).
A proposta do governo reconhece as mortes de 136 pessoas desaparecidas no regime militar e prevê a indenização de seus parentes.
Outra proposta da comissão, segundo Ferro, é a inclusão na lista do governo das pessoas que não constam como desaparecidas, mas que foram ``mortas pelo Estado".
Entre essas pessoas estão o jornalista Vladimir Herzog e o padre Antônio Henrique (morto em Recife em 1969), auxiliar do então arcebispo de Olinda e Recife, d. Hélder Câmara.
Para Ferro, as audiências públicas (que deverão ser realizadas até a audiência com o ministro Nelson Jobim, em 28 de agosto) vão levar ``com certeza" à identificação de desaparecidos que nunca tiveram seus nomes incluídos em listas dessa natureza.
Na audiência de ontem em Recife, a funcionária pública municipal Delzuíte da Costa Silva, 58, de Jaboatão (PE), disse que o seu marido Adauto Freire da Costa foi enterrado em 1979 em Teresópolis (RJ) com o nome falso de Celestino Alves da Cruz.
Ela disse que enterrou o marido com nome falso porque ``estava com medo da repressão".
Adauto Freire da Costa, segundo ela, morreu de infarto, em 1979. Ele foi membro do PCB e das Ligas Camponesas (movimento camponês surgido em Pernambuco no final da década de 50).
O deputado Ferro disse que será providenciada exumação para identificá-lo.

Seguro para policiais
O presidente da comissão, deputado Nilmário Miranda (PT-MG), estuda propor um projeto de lei para garantir seguro de vida aos policiais e militares que morrem em serviço.
Miranda negou que o projeto objetive amenizar a oposição de famílias de policiais e militares mortos no regime militar ao projeto sobre desaparecidos.
Essas famílias também querem receber a indenização que será concedida aos familiares de desaparecidos e de mortos sob tortura.
Segundo ele, o seu projeto será a primeira iniciativa da comissão a favor de policiais e militares.

Colaborou a Sucursal de Brasília

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