São Paulo, terça-feira, 8 de agosto de 1995
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O teste começou

JANIO DE FREITAS

A confiança do presidente Fernando Henrique Cardoso em sua habilidade política entra, enfim, em uma situação de teste real. Ou se confirma sem demora ou Fernando Henrique e seu governo vão ao encontro, muito mais cedo que até os adversários pressentiram, da sua primeira e talvez decisiva hora da verdade: as nuvens que se armam sobre a moralidade do governo são nuvens de tempestade.
A habilidade de Fernando Henrique precisará mostrar-se em relação a duas zonas de perigo, Comunicações e Secretaria de Acompanhamento Econômico, onde as cortinas abriram uma fresta para as atenções públicas. O escândalo Dallari não depende de ir muito além do já divulgado para representar um problema de difícil trato pelo governo. Trato que começou muito mal, com a tentativa do secretário do Gabinete Civil, Clóvis Carvalho, de sustar a divulgação dos fatos levantados por ``Veja".
Mas o escândalo Dallari pode tornar-se, de repente, muito maior do que a capacidade do governo de controlá-lo em limites suportáveis. Elementos iniciais para investigações, muito além do tráfico de informações privilegiadas, não faltam nem são recentes. A propósito, fui honrado há meses com uma mensagem pessoal e impublicável de Dallari, irritado com referências frequentes a suas relações muito especiais com certas empresas e setores inteiros do empresariado. Essas relações, por exemplo, não figuram ainda nas atividades de Dallari investigadas pela Receita Federal, ou no que delas já se torna público. São, porém, potencialmente muito mais férteis do que o tráfico de informações agora noticiado.
Maiores ainda são os riscos que se prenunciam para o governo na área das Comunicações. Seria sem precedentes que compras sem concorrência no montante de mais de R$ 1 bilhão, como divulgado ontem pela Folha, se fizessem à margem de grandes ilicitudes. Tudo o que aqui tem envolvido a telefonia celular, aliás, é inseparável da crônica da corrupção.
Na área das Comunicações há, no entanto, mais pólvora armazenada contra o governo. Parte dela consiste em uma operação, já movimentando grandes interesses financeiros, para soterrar um projeto da Embratel chamado Inmsat, que assim daria lugar a um monopólio privado de comunicação entre satélites.
Dallari, compras gigantescas sem concorrência, o destino do Inmsat, estas coisas estão apenas despontando. Ao governo não faltam recursos fortes para sufocá-las no ponto em que estão. O que cabe ver, e será divertido ver, é como utilizará os recursos e com que grau de eficácia o fará. Se errar a mão, era uma vez o governo dos inteligentes.

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