São Paulo, terça-feira, 8 de agosto de 1995
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Diretor sofisticou o musical brasileiro

DA SUCURSAL DO RIO

Carlos Manga tinha apenas 19 anos quando entrou pela primeira vez nos estúdios da Atlântida, na rua Haddock Lobo, na Tijuca. Começou como ajudante de carpintaria, envergando um macacão azul e ganhando menos de um sexto do que recebia em seus dois empregos anteriores. Para ele, o cinema valia qualquer sacrifício.
Cinco anos mais tarde, dirigia seu primeiro filme, ``A Dupla do Barulho", com Oscarito e Grande Otelo, sem números musicais. Não era ainda uma chanchada. Mas elas estavam a caminho.
Com Manga, as chanchadas ganharam novo alento. Ficaram mais sofisticadas, engraçadas -e sobretudo paródicas. Exemplos mais notáveis: ``Nem Sansão Nem Dalila" (1954), paródia do épico bíblico de Cecil B. De Mille, ``Sansão e Dalila"; ``Matar ou Correr" (1954), gozação do mítico bangue-bangue de Fred Zinnemann. Na primeira, modelar sátira ao populismo e à ditadura estadonovista, Oscarito imitava Getúlio Vargas; na segunda, seu modelo era menos o Gary Cooper de ``Matar ou Morrer" (High Noon) que o Bob Hope de ``O Valente Treme-Treme".
Em dez anos, Manga dirigiu 21 filmes, nem todos com as qualidades de ``Colégio de Brotos" (1956), ``De Vento em Popa" (57), ``Esse Milhão É Meu" (58) e ``O Homem do Sputnik" (59). Suas oito últimas comédias foram decepcionantes e assinalam o declínio do gênero, afinal sepultado pela TV. Em 1961, Manga se despediu da Atlântida com ``As Sete Evas" e ``Entre Mulheres e Espiões", duas sátiras onde as atrizes tinham mais graça que as gags.
Enquanto o Cinema Novo deu as cartas, na década de 60, Manga não teve vez. Refugiou-se na publicidade, só ressuscitando atrás das câmeras em 1974, com um thriller americanizado, ``O Marginal", estrelado por Tarcísio Meira. No ano seguinte, estimulado pela primeira antologia de musicais da Metro, ``That's Entertainment", produziu um sucedâneo sobre a era de ouro das chanchadas, intitulado ``Assim Era a Atlântida", recolhendo-se novamente ao mundo publicitário, de onde reemergeria 11 anos mais tarde, para juntar Pelé a Renato Aragão & cia em ``Os Trapalhões e o Rei do Futebol', por ora seu canto do cisne cinematográfico.
Há dois anos, trocou a publicidade pela televisão. À frente das minisséries da Globo, reencontrou-se, de certo modo, com a velha magia do cinema.

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