São Paulo, terça-feira, 8 de agosto de 1995 |
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Documentário aborda o universo dos anões 'Criaturas que Nasciam em Segredo' pré-estréia hoje JOSÉ GERALDO COUTO
Produção: Brasil, 1995, 21 min. Direção: Chico Teixeira Narração: Paulo José Quando: pré-estréia hoje, às 21h, no anexo do Espaço Banco Nacional de Cinema (rua Augusta, 1.470, tel. 011/288-6780) ``Criaturas que Nasciam em Segredo" -que pré-estréia hoje em São Paulo e concorre na próxima semana no Festival de Gramado (RS), na categoria curta-metragem em 16 mm- é um documentário enxuto e sensível sobre anões. Primeiro filme de Chico Teixeira -que fez anteriormente os elogiados vídeos ``Favelas" e ``Velhice"-, ``Criaturas" enfrenta um desafio espinhoso: como tratar um tema tão delicado (trata-se, afinal, de uma deformação física) evitando ao mesmo tempo o desrespeito e o paternalismo? A solução do diretor foi, aparentemente, a mais simples possível: adotar um tom sóbrio e dar a palavra aos próprios anões. Cinco deles falam, diretamente para a câmera, sobre suas experiências de vida: um garçom, uma manicure, uma pesquisadora da prefeitura, um comediante, um palhaço de circo. Além da baixa estatura, todos têm uma coisa em comum: estão em paz consigo mesmos e com o grande mundo à sua volta. Apesar da serenidade e do humor com que falam sobre suas dificuldades e sua ``diferença", seus depoimentos são contundentes. A pesquisadora Joseli revela, com a maior naturalidade: ``Nasci uma mocinha completa, com seios, pêlos e menstruação. Aos três ou quatro anos, quando eu menstruava, minha mãe me trancava no quarto e dizia: `Você não pode sair porque está doente'." Outro depoimento comovente é o da manicure Isis, mulher do garçom Joãozinho, também anão. Ela diz que não gostava de anões (``Chegava a mudar de calçada para evitá-los"), mas que acabou se apaixonado por um. Com uma ternura infinita, declara: ``O João é um homem maravilhoso, o maior amor da minha vida". Apesar do realismo, Teixeira não deixa de lado o fascínio que milenarmente envolve a figura dos anões. Alterna os depoimentos dos personagens com cenas quase oníricas a respeito dos antigos bufões. Segundo o filme, estes eram quase sempre anões nascidos de amores ilícitos de nobres ou membros das famílias reais -daí o belo título deste belo curta. Carlos Zéfiro Outro curta com tema ``excêntrico" que concorre em Gramado (na categoria 35 mm) é ``A Desforra da Titia", inspirado nos quadrinhos pornográficos de Carlos Zéfiro, famosos nos anos 60. Ao abordar o universo de Zéfiro, os diretores Reinaldo Pinheiro e Eduardo Quirino optaram pela estilização (tudo ali é cenário) e por um humor de chanchada. O resultado é um filme divertido, mas que atenua (para não dizer desvirtua) o erotismo abusado e subversivo de Zéfiro. Uma curiosidade: a psicanalista Mirian Chnaiderman colaborou no roteiro. Texto Anterior: Historiador faz palestra amanhã Próximo Texto: "A Globo é a minha nova Atlântida" Índice |
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