São Paulo, terça-feira, 8 de agosto de 1995
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Polícia versus cidadão

LUIZ CAVERSAN

Uma semana depois das críticas do secretário da Segurança do Rio, para quem tem gente que se sente mais segura pedindo proteção ao bandido do que à polícia, o assunto continua repercutindo.
A polêmica envolve também uma suposta extinção da Polícia Civil, proposta que o general diz que não defendeu e medida que o governador Marcello Alencar afirma que não vai ser tomada.
A respeito da primeira declaração do general, repetida insistentemente pelas TVs, o mínimo que se pode dizer é que ele disse o que todo mundo, ou grande parte da população do Rio, sente.
Infelizmente, até mesmo os policiais honestos e cumpridores de seus deveres sabem disso: a fama da polícia carioca, por causa do comportamento da maioria de seus funcionários, é a pior possível.
As histórias são muitas, vão desde os pequenos atos de corrupção, venda de proteção, acobertamento de pontos de tráfico, até procedimentos, digamos assim, mais criativos. Como o seguinte:
Um rapaz vai a um cinema do centro do Rio que projeta filmes eróticos.
Dentro do cinema, o rapaz vai ao banheiro. É então abordado por dois homens que se identificam como policiais e que o acusam de estar praticando ``ato obsceno".
Diante da negativa do rapaz, os policiais -armados e portando documentos funcionais- dizem que é melhor ele colaborar para não se dar mal.
O rapaz pede para ser levado a uma delegacia, onde tudo se esclareceria. Os policiais dizem que querem dinheiro e ameaçam, claramente, sumir com o rapaz.
Temendo pela própria vida, não resta ao cidadão outra alternativa senão acompanhar os policiais.
Ele é levado a um caixa eletrônico e obrigado a sacar e passar aos ``homens da lei" todo o dinheiro que tinha disponível.
Assustado e sem dinheiro, deixou o lugar o mais rápido possível, com uma certeza: dar queixa à polícia, nem pensar.

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