São Paulo, quarta-feira, 9 de agosto de 1995
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Depoimento não esclarece negócio com Irã

ROBERTO PEREIRA DE SOUZA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Os quatro volumes do processo que apura a venda de armamentos para o Irã e para os Contras da Nicarágua trazem uma série de pontos obscuros, embutidos na operação intermediada pela Jabour Exportadora e pela fábrica de granadas Explo.
Até o momento, nem os depoimentos dos sete denunciados durante e o Inquérito Policial Militar que apurou o caso conseguiram esclarecer essas questões.
Diante do número de 1 milhão de granadas de mão, por exemplo, os denunciados afirmam que apenas uma parte desse lote foi produzida.
O pedido-contrato de compra encaminhado pela Jabour e assinado pela Explo, entretanto, estabelece que aquele documento era "irrevogável e irretratável".
Se a encomenda tivesse sido cancelada, alguém deveria ter recebido um comunicado do provável comprador, concluiu um dos procuradores da República que trabalharam no caso.
Quando foram interrogados, os sete denunciados (Antonio Bercher de Moura, Jacaúna Cordeiro, João Chiarelli Filho e Arnaldo Vianna -pela Explo- e João Luis Mauad, Jorge Jabour Mauad e Carlos Eduardo Saddok de Sá Motta -diretores da Jabour) afirmaram que o pedido havia sido cancelado e que uma pequena parte havia sido enviada.
O principal motivo para o cancelamento do contrato teria sido o descumprimento de prazo pela fábrica.
Não há, entretanto, nenhum adendo contratual estabelecendo o cancelamento, mas sim um prêmio de pontualidade concedido pela exportadora à Explo.
"A Procuradoria da República está analisando todos os documentos que formam o processo com absoluto rigor", disse ontem o procurador Artur Gueiros.
Os preços das granadas de mão não batem. O contrato estabelece o preço US$ 4,90 por unidade. A guia encaminhada à Cacex (Carteira de Comércio Exterior do Banco do Brasil) estabelecia os preços unitários em US$ 5,27.
Outra contradição refere-se ao peso bruto das granadas de bocal. Em embarque feito em 4 de junho de 1984, há uma diferença de 4,2 toneladas.
"Esta é uma situação que não mais podemos suportar sozinhos." A frase, em negrito, resume o teor da carta que o presidente da Explo, João Chiarelli Filho, enviou ao general do Exército Dirceu Ribas Correa, diretor do Departamento de Material Bélico, do Ministério do Exército, no dia 26 de maio de 1995.
Na carta, Chiarelli afirma que a empresa agiu sempre autorizada pelos órgãos que controlavam a liberação, a produção, o transporte e o embarque de armamentos.
A carta também afirma que as granadas encontradas com traficantes do Rio não teriam sido vendidas pela Explo.
"Sabemos todos, porém, que artefatos similares de uso privativo das Forças Armadas tem (sic) sido desviados de suas unidades, como estão a comprovar inquéritos instaurados na Justiça Militar."
Cerca de cem granadas de uso exclusivo das Forças Armadas são encontradas anualmente em mãos de marginais cariocas.
Em 93, esse número não passou de 65 -50 delas fabricadas pela CEV (Companhia de Explosivos Valparaíba, do grupo Explo).
Em relação à denúncia de que 30 mil granadas da CEV foram enviadas aos Contras, que lutavam contra o governo da Nicarágua, Chiarelli escreve que a Jabour "agira à época devida e formalmente autorizada.

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