São Paulo, quarta-feira, 9 de agosto de 1995
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Um pé em dois estribos

A promiscuidade entre o domínio público e o privado tem sido flagrada sazonalmente no Brasil, atingindo agora o secretário de Acompanhamento Econômico do Ministério da Fazenda.
O mal-estar criado pela suspeita de que, como sócio majoritário de uma empresa de consultoria, José Milton Dallari poderia ter permitido o repasse de informações governamentais privilegiadas a seus clientes, não pode ser facilmente abandonado pelas alegações apresentadas pelo secretário.
Provando-se ou não que, quando de sua posse no ministério, o secretário já se afastara da assessoria, é inegável a proximidade entre os fins visados por sua recente atividade de consultoria e os implicados por sua função pública. Ainda que liquidasse seus negócios anteriores, sua presença no cargo público não estaria isenta de suspeitas.
A habitual existência de vasos comunicantes entre a iniciativa privada e as esferas governamentais, mesmo quando não se registram flagrantes de tráfico de influência, constitui hoje em todo mundo um grande desafio à estrita observação dos ditames de probidade administrativa, sobretudo em países de pouca tradição fiscalizadora como o Brasil. Afinal, não são poucas as dificuldades para se investigar todos os canais que se prestam ao vazamento de informações sigilosas do Estado para particulares.
Essa constatação, porém, não deve invalidar as iniciativas voltadas à rigorosa apuração de responsabilidades, sempre que os indícios se apresentarem.

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