São Paulo, quarta-feira, 9 de agosto de 1995
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O PT na espreita

JOSIAS DE SOUZA

BRASÍLIA - Uma das graças do momento é o comportamento do governo diante do caso que envolve José Milton Dallari, secretário de Acompanhamento Econômico. Todo o primeiro escalão, a começar do presidente Fernando Henrique, agia ontem como se não tivesse qualquer familiaridade com o episódio.
Até o copeiro do Ministério da Fazenda, sabe-se agora, tinha conhecimento da investigação que a Receita Federal realiza em torno das atividades privadas de Dallari. O processo, aliás, foi iniciado ainda no governo Itamar.
A despeito de tudo, Dallari continuou desfrutando da confiança do governo. Eleito presidente, Fernando Henrique não se limitou a mantê-lo no governo. Deu-lhe status de secretário de Estado.
O caso tornou-se público no domingo. E ninguém no governo se dispôs a defender Dallari. O xerife dos preços, como é conhecido, foi mantido sob tiroteio por cerca de 72 horas.
Nesse tipo de assunto não há lugar para hesitação. Ou o governo confia em Dallari e deveria tê-lo defendido desde a primeira hora ou não confia e deveria ter providenciado a sua demissão há mais tempo, desde o início das investigações.
No final da tarde de ontem, o porta-voz da Presidência ensaiou uma tímida defesa de Dallari. Sérgio Amaral disse que não se pode condenar previamente um alto funcionário público a partir de indícios, de suspeitas.
Simultaneamente, o ministro Pedro Malan discutia com Fernando Henrique a estratégia a ser adotada. Falava-se abertamente sobre a demissão do funcionário que o porta-voz defendia.
Dallari estava desolado, como deixou transparecer em seus contatos privados. Vagava pelo prédio do Ministério da Fazenda como um trapo humano. Sentia-se abandonado pelo governo. Não conseguia entender o comportamento errático de seus superiores.
No Congresso, petistas mais exaltados identificaram no episódio um ponto fraco do governo. Planeja-se uma ofensiva em direção a outros auxiliares que, como Dallari, estariam próximos demais da iniciativa privada.
É hora de se discutir seriamente a necessidade de profissionalização do serviço público.

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