São Paulo, quinta-feira, 10 de agosto de 1995
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Mulher baleada por PM morre no hospital

ROGER MODKOVSKI
DA REPORTAGEM LOCAL

A mulher que foi baleada na cabeça por um policial militar na manhã de sexta-feira, em Campo Belo (zona sul de SP), morreu ontem, às 4h, no Hospital do Jabaquara.
O crime aconteceu às 11h30. Segundo a polícia, o tenente Claudio Geromin Valente, 29, e três outros PMs estariam revistando o menor A.S.F., 16, na favela Lacônia 2, em uma ruela de dois metros de largura, quando a metralhadora Beretta de Valente teria disparado por acidente. A empregada diarista Valdirene Francisco Alves, 19, que estendia roupa na frente de seu barraco, foi atingida.
Segundo os moradores da favela, Valente estaria sozinho e agredia o menor a coronhadas. A.S.F. teria se esquivado de um golpe e a arma, esbarrando em seu ombro, teria disparado.
Depois do incidente, Valente se apresentou ao 27º DP, em Campo Belo. Réu primário (não condenado nos últimos cinco anos), pagou fiança de R$ 60,00 e foi posto em liberdade. Está fazendo trabalho burocrático na 1ª companhia do 12º Batalhão da PM.
A arma está em perícia no Instituto de Criminalística. O modelo tem duas travas para impedir tiros acidentais.
Há três hipóteses para explicar o disparo: ou a arma estava destravada, ou estava com uma bala na agulha (posição de disparo por um leve toque no gatilho), ou tinha defeito.
Foi instaurado IPM (Inquérito Policial Militar) contra Valente. Com o resultado da perícia, o caso poderá ser levado à Justiça Militar (o fato de Valente ter usado arma da PM enquadra o crime na legislação militar).
Caso ele seja indiciado por homicídio culposo (matar sem intenção), deverá cumprir, segundo o Código Penal Militar, de um a quatro anos de prisão.
Segundo o promotor de Justiça Militar Luis Roque Lombardi Barbosa, caso se confirme a hipótese, Valente deve ter pena menor que dois anos e direito a sursis (suspensão da pena).
Valente poderia até voltar à rua: o afastamento do trabalho de campo a que está submetido, diz Barbosa, é só uma ``medida administrativa" e não uma exigência legal. A prisão preventiva de Valente só pode ser pedida pelo responsável pelo IPM ou por um promotor de Justiça Militar.
Valdirene tinha vindo de Araras, Paraíba, há um mês, com a filha Larissa, 1, para morar com seus cinco irmãos.

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