São Paulo, sexta-feira, 11 de agosto de 1995
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REPERCUSSÃO

Francisco Weffort, ministro da Cultura e professor titular licenciado do departamento de ciência política da USP: ``O Florestan criou aquilo que os historiadores chamam escola paulista de sociologia, que é, na verdade, o início da sociologia moderna brasileira. Ele formou muita gente, o Fernando Henrique, o Octávio Ianni, a Maria Sylvia Carvalho Franco. Era um personagem de convivência muito fácil e gostava de suscitar o debate com os alunos, não para fins simplesmente didáticos, mas pelo gosto de debater, de enfrentar a discussão. Além de ter criado escola, passou aos seus alunos até uma certa maneira de escrever. Isso é claro nos primeiros escritos do Fernando Henrique, que foi fortemente marcado pelo Florestan. Você veja, o Fernando é um grande sociólogo, mas não criou escola como o Florestan. Ele era uma figura muito querida."
Darcy Ribeiro, antropólogo e senador (PDT-RJ): ``Era um grande cientista, um dos mais brilhantes produzidos pela USP. O estudo dele sobre a sociedade tupinambá é um dos poucos livros que poderão ser publicados daqui a cem anos. Tem uma obra vasta, que, sem dúvida, vai sobreviver. Uma coisa bonita foi ver ele deixar sua torre acadêmica para entrar na briga política por uma melhor lei de diretrizes e bases da educação".
Antonio Callado, escritor, jornalista e colunista da Folha: ``É uma perda. O Florestan é uma figura de grande importância na sociologia e antropologia".
Paulo Renato Souza, ministro da Educação: ``A educação foi um tema privilegiado na sua vida, notável nos seus escritos e na atuação política. Ele defendia o ensino público e gratuito com qualidade, não era corporativista. Conseguiu reconhecimento da sociedade paulista, com uma votação surpreendente para deputado, que superou em muito o número de seus ex-alunos. Vários intelectuais tentaram se lançar politicamente e não tiveram êxito".
Marilena Chaui, filósofa, ex-secretária da Cultura de São Paulo: ``A primeira coisa que precisa ser dita sobre Florestan Fernandes está no nível pessoal. O que significa aquele que tem o apelo do pensamento? Quando você vê a história do Florestan, as dificuldades monumentais que enfrentou, você vê que foi uma vida extraordinária. Ele fundou uma instituição e deixou uma escola de pensamento. Num país como o nosso, não é pouco. E tem ainda o Florestan militante. Aí, o traço que mais me impressionou foi a coragem de ser coerente. Mesmo quando as circunstâncias pareciam as mais inadequadas para uma análise marxista, Florestan mostrava que sem a análise marxista você não poderia entender aquela realidade. Em tempos de adversidades, ele nunca silenciou. Vai fazer muita falta."
Francisco de Oliveira, economista, professor titular do departamento de sociologia da USP e pesquisador do Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento): ``Tinha um carinho pessoal por ele. Acho que sua obra é mal compreendida. Ele deve ser situado ao nível dos grandes formadores da ciência moderna no Brasil. Ele não tem o brilho dos grandes quatro, Sérgio Buarque de Holanda, Caio Prado Jr., Gilberto Freyre e Celso Furtado, mas deve ser incluído neste grupo. Ele tem, de excepcional, o fato de ter fundado a sociologia no Brasil. Isso o coloca de forma irreversível nessa galeria de homens que são uma espécie de demiurgos do Brasil moderno."
José Arthur Giannotti, filósofo, professor aposentado da USP e presidente do Cebrap: ``Ele foi nosso professor, nosso mestre e o contato com ele era absolutamente extraordinário. Foi uma pessoa que tinha uma capacidade enorme de formar alunos e, antes de tudo, uma enorme capacidade de não se dobrar. Às vezes, isso o levava para posições de uma certa rigidez, mas, neste mundo mole como o nosso, as pessoas que mantêm sua ortodoxia são muitas vezes importantes".
Flávio Fava de Moraes, reitor da USP: "A obra que ele realizou o tornou defensor número um do projeto de escola pública, para que pessoas como ele, de origem humilde, pudessem estudar. Ele é um exemplo para a universidade.
Carlos Guilherme Mota, professor de história da USP: "O maior cientista social brasileiro do século 20. Dialetizou como ninguém o trabalho do sociólogo-historiador com o de socialista combatente. Pessoalmente, foi um amigo inexcedível nas horas difíceis, de uma integridade total.
Jacob Gorender, historiador e professor visitante do Instituto de Estudos Avançados da USP: "Uma das maiores figuras da cultura brasileira nesta segunda metade do século 20. Ao mesmo tempo em que fazia grandes exigências de rigor científico, se mantinha fiel à sua origem humilde e ao pensamento socialista".
João Baptista Borges Pereira, diretor da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP: "O país perde um homem que conseguiu com rara maestria conciliar o intelectual e o militante, dentro de um padrão ético inigualável".
Bolivar Lamounier, cientista político: ``Florestan exerceu com extraordinária integridade pessoal e científica todas as suas funções. Foi uma figura amplíssima, que só engrandeceu o Congresso".
José de Souza Martins, professor de sociologia da USP: "Quase todos os seus trabalhos são fundamentais. Entre eles, dois marcos da etnologia: `A Organização Social dos Tupinambá' e `A Função Social da Guerra na Sociedade Tupinambá'. Foi o homem que assegurou a sociologia como disciplina científica".
Luiz Inácio Lula da Silva, presidente do PT: ``Florestan simboliza com coerência uma geração da esquerda. Viveu e morreu na oposição ao neoliberalismo."
Marco Aurélio Garcia, cientista político e membro da Executiva Nacional do PT: ``É um caso exemplar de intelectual com enorme influência na formação do pensamento social brasileiro, que, no fim da vida, optou pelo engajamento político mais ativo. No PT, foi um exemplo do entroncamento de intelectuais com o movimento social".
José Dirceu, ex-deputado federal do PT: ``O que mais me marcou em Florestan foi a capacidade de luta e resistência. Também tinha na pureza um de seus traços".
Mário Covas, governador de São Paulo (PSDB): ``Nunca ouvi uma palavra que não fosse doce de Florestan. Foi um ser humano inigualável".
Paulo Maluf, prefeito de São Paulo: ``Tenho, à distância, a melhor imagem de Florestan Fernandes. Lia sempre seus artigos na Folha. Acho que foi uma grande perda para o país".
Eduardo Suplicy, senador (PT-SP): ``Foi um exemplo de dignidade e seriedade intelectual e manteve os compromissos com os oprimidos e a ciência social".
Esperidião Amin, senador (PPR-SC): ``Os homens bons não morrem. É o instante de reverenciarmos a luta doce e persistente de Florestan".
Rui Falcão, vice-presidente nacional do PT: ``O país perde um grande intelectual e os trabalhadores choram a morte de um lutador incansável pelos seus direitos. Ele ampliava muito o PT e trazia respeitabilidade ao partido".

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