São Paulo, sexta-feira, 11 de agosto de 1995
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Economistas divergem sobre quadro recessivo

MARCOS CÉZARI
DA REPORTAGEM LOCAL

O Brasil não vive uma situação clara de recessão econômica. Economistas ouvidos ontem pela Folha definem o quadro atual como recessivo, de desaquecimento e de desaceleração.
O ex-ministro do Planejamento Mário Henrique Simonsen diz que toda recessão ajuda a segurar os preços. ``Não há recessão, mas desaquecimento", afirma.
Para Simonsen, a inflação deve cair nos próximos meses. A maior pressão no primeiro ano do Plano Real veio dos aluguéis. Agora, os aluguéis estão perdendo fôlego, afirma. O ex-ministro diz que se a pressão tivesse vindo apenas dos alimentos e tarifas, a inflação seria mínima nos últimos 12 meses.
O economista Gil Pace, diretor da GPC Consultores Associados, afirma que o país está em recessão. ``Tenho certeza absoluta". Para ele, a quebradeira da classe média (atraso no pagamento de prestações, cheques devolvidos etc.) é a maior prova da recessão.
Pace critica o governo pela situação atual. A recessão impõe um custo impagável à sociedade e o governo não faz nada para melhorar a situação, afirma.
O economista diz que o governo não tem, hoje, um plano econômico. ``O governo atua de forma casuística no dia-a-dia, eliminando um mas criando dois problemas".
Pace diz que jamais viu uma desorganização tão grande na equipe econômica como agora. ``Falta um maestro para coordenar as decisões de equipe. Sem esse maestro nada dá certo".
Pace entende que o grande problema ainda são os gastos do governo, muito acima do que é arrecadado. ``Isso vai continuar por mais tempo", diz.
Para José Carlos Braga, professor do Instituto de Economia da Unicamp e ex-secretário de Abastecimento e Preços do Ministério da Fazenda na gestão Dilson Funaro, a recessão econômica ajuda a segurar os preços.
Braga também entende que não há recessão. ``Há uma desaceleração do crescimento da economia". Há três fatores segurando os preços, segundo o professor: importações, taxa de câmbio e menor margem de lucro das empresas.
Esse conjunto de fatores, diz Braga, deve fazer com que a inflação caia ainda mais até o final do ano. ``As empresas ainda podem reduzir os preços, pois teriam aumento das vendas", afirma.

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