São Paulo, sexta-feira, 11 de agosto de 1995
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Tyson está sozinho

WILSON BALDINI JR.

Nos esportes coletivos, como acontece no futebol, um técnico chega a orientar 11 atletas. O trabalho precisa ser diferenciado, pois cada jogador tem suas características próprias.
Na conquista corintiana, podemos destacar os chutes precisos de Marcelinho, as defesas de Ronaldo, a segurança de Célio Silva e a valentia de Bernardo. Tudo supervisionado exclusivamente pelo técnico Eduardo Amorim.
No boxe é o inverso. Por exemplo: o norte-americano Evander Holyfield reuniu 15 especialistas para orientá-lo na conquista do título mundial dos pesados.
Tinha o professor de aeróbica, o de musculação, o de educação física, o de natação, que se juntavam aos especialistas em boxe. Todos eram liderados por George Benton, que soma quase quatro décadas na função de treinador.
A escolha de pessoas competentes e confiáveis é muito importante em um esporte tão solitário como o boxe. O pugilista precisa estar muito seguro para subir no ringue e ter a concentração necessária para desenvolver o que foi treinado.
No Brasil, o maior exemplo -mais uma vez- foi Éder Jofre, que tinha seu escudo: o pai, Kid Jofre, que era o técnico.
Mike Tyson volta aos ringues dentro de oito dias. E está sozinho. Ou podemos confiar em Bright, Snowell ou Blackwell?
Os dois primeiros não passavam de ``garotos de recado" do empresário Don King. Foram colocados no cargo de treinadores do ``Iron Man" em 89, depois que Tyson se desentendeu com Kevin Rooney.
Rooney foi aluno de Cus D'Amato, homem que transformou o delinquente do Brooklyn no mais jovem campeão mundial dos pesos-pesados, aos 20 anos de idade.
No final dos anos 80, a carreira do então campeão estava em declínio e os curiosos Bright e Snowell se limitavam a admirar Tyson ao final das sessões de treinos.
Já Blackwell mostra toda a sua ignorância pugilística em entrevistas, preferindo falar do tamanho do pescoço do ex-campeão a discutir assuntos pertinentes.
Quando estava na cadeia, Mike Tyson afirmou que não estava preocupado em escolher o novo técnico. Para ele, ``esta função no boxe era muito valorizada e tinha pouca importância". Ninguém teria condições de lhe ensinar algo de novo, depois de D'Amato.
Com certeza, Tyson está errado. Só nos resta torcer para que seus ganchos e diretos estejam tão bem direcionados quanto as cobranças de falta de Marcelinho.

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