São Paulo, sábado, 12 de agosto de 1995
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Mídia Impressa relega a Justiça Federal a 2º plano

EUNICE NUNES
ESPECIAL PARA A FOLHA

A Justiça Federal está preocupada com a sua imagem na imprensa. Refletindo essa preocupação, o Conselho da Justiça Federal elaborou uma pesquisa sobre o assunto. A conclusão do estudo indica que a presença da Justiça Federal é insignificante na mídia impressa, e recomenda o estreitamento das relações da instituição com os meios de comunicação.
A pesquisa sobre a imagem da Justiça Federal tomou por base reportagens publicadas entre 1º de julho de 1992 e 30 de junho de 1993, ``por ser um período recente, mas suficientemente distante para uma análise menos sujeita às influências do momento". Três jornais foram escolhidos como fonte de estudo: a Folha, ``O Globo" e o ``Correio Braziliense".
No período pesquisado correram as investigações da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) sobre as denúncias de corrupção no governo Fernando Collor.
Em função desse cenário político, a maioria das reportagens analisadas abordava o tema ``corrupção" (40,36%). Outros temas abordados foram, por ordem decrescente, o Poder Judiciário (5,49%), os magistrados (3,3%) e a Justiça Federal (0,65%) (leia quadro ao lado).
A análise dos títulos em que aparecem os nomes das instituições objeto da pesquisa obedeceu aos critérios de neutro, favorável e desfavorável. Predominam os títulos favoráveis (40,95%), seguidos pelos neutros (39,77%).
``É saudável a preocupação da Justiça Federal com a sua imagem na imprensa. É a ela que são submetidos os problemas de interesse nacional. Portanto, é uma questão de utilidade pública a publicação do que é julgado pela instituição", avalia o tributarista Waldir Braga.
Sua opinião é partilhada pelo advogado Arystóbulo de Oliveira Freitas, especialista em relações de consumo. ``O bloqueio dos cruzados, por exemplo, demonstrou a importância da Justiça Federal. É importante que as pessoas saibam o que está sendo decidido", diz.
Os dois acreditam que falta um canal aberto entre imprensa e Justiça Federal. Para eles, a Justiça não divulga e a imprensa não vai atrás da notícia.
Os juízes federais concordam. ``A imprensa presta um serviço público e estimula o exercício da cidadania ao informar as pessoas sobre as decisões judiciais", afirma Diva Malerbi, juíza do Tribunal Regional Federal da 3ª Região (São Paulo e Mato Grosso do Sul).
``Toda a vez que o cidadão sabe pela imprensa que pode ter seus direitos garantidos pelo Judiciário, há um grande aumento de demanda", acrescenta a juíza Anna Maria Pimentel, também do TRF.
E aí os problemas agigantam-se. Sempre que a Justiça foi solicitada pelo exercício da cidadania verificou-se que ela não estava aparelhada para atender prontamente ao enorme volume de ações.
O resultado é a demora nas decisões: estima-se hoje que uma ação proposta na Justiça Federal em São Paulo demore cerca de sete anos até ser resolvida.
O número de juízes é insuficiente. Segundo Diva Malerbi, cada juiz do TRF da 3ª Região tem, em média, 8.000 processos à espera de julgamento.
Para Anna Pimentel, além de mais juízes, é preciso modernizar o sistema processual (aquele que define os trâmites de um processo). ``Informatização do Judiciário e treinamento do pessoal também são fundamentais", diz.

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