São Paulo, domingo, 13 de agosto de 1995
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Falta cesta para a 'campeã' de indigência

PAULO MOTA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM ARARIPE

A ação do Programa da Comunidade Solidária no município cearense de Araripe, apontado como campeão em número de indigentes no país, se resume à distribuição limitada de cestas básicas.
Em Araripe (a 557 km de Fortaleza), cerca de 73,5% dos 17.409 habitantes são indigentes.
O município é um dos nove no Ceará beneficiados pelo Programa da Comunidade Solidária.
É considerada indigente a pessoa cuja renda familiar corresponde no máximo ao valor de uma cesta básica, segundo o Ipea (Instituto de Pesquisas Econômicas e Aplicadas)
O coordenador do Comunidade Solidária em Araripe, Raimundo Basílio Ferreira, disse que a única atividade concreta do programa prevista para o município em 1995 é a distribuição de 2.796 cestas básicas para famílias pobres.
Segundo Ferreira, existe ainda uma ``promessa" de distribuição de leite. Ele diz que o programa não tem projetos de geração de empregos. O desemprego é o principal problema do município.
Segundo o prefeito de Araripe, Elísio Alves Alencar (PSDB), só recebem salários no município os 780 funcionários da prefeitura, os 2.800 aposentados rurais e os 150 funcionários estaduais.
Gerente do Banco do Brasil em Araripe, Ferreira disse que recebeu orientação do programa para não deixar políticos tirarem proveito da distribuição.
Entre os membros da comissão distribuidora, está um representante da Câmara Municipal e outro da prefeitura.
A participação da sociedade local nas ações do programa Comunidade Solidária é quase inexistente. O padre da cidade e os secretários municipais de Finanças e Saúde só souberam da existência do programa no município por meio da reportagem da Agência Folha, na última terça-feira.
O vice-presidente da Associação dos Plantadores de Mandioca de Lagoa Grande, Abrão Morais Veloso, afirmou que nunca ouviu falar do Programa da Comunidade Solidária.
O prefeito declarou que a melhor forma de combater a miséria em Araripe seria aumentar a receita vinda do FPM (Fundo de Participação dos Municípios), que em junho foi de R$ 70 mil.
O prefeito diz que a cota do FPM caiu 30% nos últimos seis meses. Desde o mês passado, a prefeitura não consegue pagar dívidas com os fornecedores. Ele disse que 70% do FPM são para pagar o funcionalismo. ``Não sobra nada para investimentos".
Para o prefeito de Araripe, o grande índice de indigentes no município explica-se pelo ``espírito acomodado" da população. ``O pessoal já se acostumou nessa vidinha e não faz nada para mudá-la", declarou.
O padre da cidade, Raimundo Araújo da Silva, concorda com o prefeito.
``O pessoal daqui é tão acomodado que nem com religião se envolve", disse. ``Na festa de Santo Antônio, padroeiro da cidade, a igreja teve um prejuízo de R$ 500,00 por falta de participação".

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