São Paulo, domingo, 13 de agosto de 1995
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NA PONTA DO LÁPIS

MARCELO LEITE

Desconhecia que 21 X 60 = 1.260, ou que 30 X 51 = 1.530, ou ainda que 21 X 87 = 1.827. Muito menos teria reparado que os algarismos que compõem esses fatores se repetem nos produtos, não fosse por um curioso artigo de Clifford A. Pickover na revista norte-americana ``Discover" de junho, em que bati os olhos sexta-feira.
Pickover chama esses números de vampiros, porque escondem uma diferença surpreendente sob a aparência normal. O maior deles conhecido, diz a revista, é 1.234.554.321 X 9.162.361.086 = 11.311.432.469.283.552.606.
Esse é o tipo da informação inútil, ao menos para quem acha que conhecimento nada tem a ver com prazer. Bem mais produtivo, sem dúvida, é quando jornalistas manipulam números não tão pirotécnicos mas com a mesma segurança e precisão. Castelos inteiros podem ruir.
Veja o caso da coluna assinada por Clóvis Rossi no sábado retrasado (pág. 1-2 da Folha), sob o título ``Salários e falácias".
O jornalista nem precisou fazer muitas contas. Bastou-lhe abordar com clareza os conceitos -base de toda a matemática-, para fulminar um dos dogmas mais renitentes neste país que não se cansa de agravar o trabalho: o de que encargos sociais representam acréscimo de mais de 100% na folha de salários.
Na realidade, e na ponta do lápis de Rossi, são cerca de 50%. A conta que deveria ser paga por todo empregador só dobra quando se classificam como encargos o descanso semanal remunerado, as férias e o 13º. Os produtos de Pickover não passam de lacaios de Drácula, diante de vampirismo tão descarado.
Se 50% é muito ou pouco, pode-se discutir. Mas não é 100%. É 50%. Não é 100, é 50. Deu para entender? Se precisar, repita. Para quem quiser ouvir.
Afinal de contas, como sintetizou o titular da coluna São Paulo, ``e se quer mudar a realidade vigente, o primeiro passo honesto é pintá-la com suas cores reais e não duplicar artificialmente o tamanho do problema".
C.q.d.

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