São Paulo, domingo, 13 de agosto de 1995
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Ajuda externa reduz crise mexicana, diz Prêmio Nobel

FLAVIO CASTELLOTTI
DA CIDADE DO MÉXICO

O PIB (Produto Interno Bruto) mexicano vai crescer 2,8% em 1996 e, a partir de 98, deve atingir um ritmo anual de crescimento ao redor dos 5%. A afirmação é de Lawrence Klein, professor da Universidade de Pensilvânia e prêmio Nobel de Economia.
Klein elaborou em conjunto com Alfredo Coutiño, diretor de Análises Macroeconômicas da empresa Ciemex-Wefa, um estudo comparativo entre as crises mexicanas de 82 e 94. A análise prevê para a economia do México uma recuperação muito mais rápida que em 1982.
Segundo Klein, Brasil, Colômbia e Chile vão passar a atrair mais investimentos estrangeiros do que México ou Argentina.
A seguir os principais trechos desta entrevista:

Folha - Os srs. consideram que a crise de 95 foi bem mais suave que a de 82. Por que?
Lawrence Klein - As crises de 82 e 94 têm muitas semelhanças. Porém, desta vez, o México soube tomar as medidas necessárias com maior agilidade. Não foi obrigado a declarar moratória, como em 82, porque conseguiu junto à comunidade internacional um apoio de quase US$ 50 bilhões.
Desta vez, o domínio do processo inflacionário foi muito mais eficaz. Reduziu-se fortemente a oferta monetária e os salários tiveram perda real de poder aquisitivo.
Claro que, como consequência, o país caiu na recessão, porém, dessa forma, poderá retomar mais rapidamente o rumo do crescimento do que se houvesse optado pela dissimulação da crise.
Folha - Isso quer dizer que o México sai da crise já em 96?
Alfredo Coutiño - Se não ocorrer nenhuma surpresa, sim. O PIB mexicano deverá cair entre 3% e 4% este ano, porém, em 96 deverá crescer cerca de 3%. O único índice que não será tão facilmente reversível é o desemprego.
Folha - Que recomendações os srs. fazem para que a recuperação mexicana seja duradoura?
Coutiño - O maior desafio é financiar o crescimento do país de uma maneira mais sólida. O aumento do nível de poupança interna (de 16% para 22% do PIB) é uma medida básica. Mas é preciso ter em mente que o crescimento da economia é absolutamente necessário. Nos últimos anos, o PIB cresceu 2,5% por ano em média e a população, 3%.
Folha - Por que o ``efeito tequila" não foi tão devastador quanto o de 1982?
Klein - Em primeiro lugar, porque a crise de 94 não teve a mesma gravidade da de 82 e, em segundo lugar, porque os outros grandes países latino-americanos vivem um momento político completamente diferente.
Tomemos como exemplo o Brasil. Em 82, o país estava em pleno processo de transição política. A oposição ganhava cada vez mais espaço nas eleições locais. O ambiente político era agitado.
Hoje, o Brasil vive momentos de tranquilidade. Implementou um programa de estabilização econômica. Politicamente, o país é outro.
Folha -Suas previsões para o Brasil são otimistas?
Klein - Claro que sim. Brasil, Colômbia e Chile vão atrair, nos próximos anos, muito mais investimentos estrangeiros que México e Argentina.

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