São Paulo, domingo, 13 de agosto de 1995
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Nova York tem 1,9 milhão de pobres

DANIELA FALCÃO
DE NOVA YORK

Nova York sempre vendeu para o mundo a imagem de uma cidade rica, com moradores apressados em ganhar dinheiro para gastá-lo da melhor maneira possível.
Mas quem visitou a cidade recentemente sabe que a realidade está cada vez mais longe dessa imagem.
Pesquisa do Community Service Society de Nova York divulgada no mês passado indica que um em cada três nova-iorquinos são pobres e têm renda anual abaixo do que o governo considera mínimo para viver bem.
São 1,9 milhão de pessoas vivendo abaixo da linha nacional de pobreza. É como se toda a cidade de Belo Horizonte fosse pobre. Foi o pior resultado registrado em Nova York nos últimos 16 anos.
Quem não acredita em números, pode conferir na prática. Basta andar 500 metros para achar alguém pedindo dinheiro ou recolhendo sobras nas latas de lixo.
Para os brasileiros, essa realidade não é novidade. Mas o que assusta os norte-americanos é o fato de a pobreza estar atingido gente que, até cinco anos atrás, vivia muito bem.
Gente como Raymond Harris, 53, que já foi dono de uma loja de equipamentos para praia e que hoje vive num dos bancos do Central Park, em frente ao Plaza Hotel.
Os ``novos pobres" de Nova York têm o 2º grau completo, são bem articulados e, em sua maioria, perderam o emprego há menos de cinco anos.
O governo dos EUA considera pobres todas as famílias de quatro pessoas com renda anual inferior a US$ 14.763,00. Em Nova York, o aluguel mensal de apartamento de quarto e sala no subúrbio, sem água e luz custa US$ 350.
A população hispânica é a maior vítima da crise na cidade: 46,5% são pobres. O salário médio anual de uma família é de US$ 13.500, metade da média das famílias ``brancas" (US$ 27 mil).
Apesar da situação ``privilegiada", a população branca foi o grupo em que houve maior crescimento do número de pobres entre 1984 (9%) e 1993 (13,4%).
Entre os negros, houve uma discreta melhora nesse período: 31,9% eram pobres em 84, contra 31,3% em 93. Mesmo com a queda no número de pobres, o salário anual de uma família negra (US$ 23 mil) continua US$ 4.000 abaixo da média de uma família branca.
Segundo os organizadores da pesquisa, a principal causa do empobrecimento da cidade foi a recessão que tomou conta do país entre 1990 e 1994.
``Desde 1979, quando começamos a fazer análise de renda da população, o número de pobres se mantinha estável na cidade. A partir de 1990, a pobreza disparou e, em 1993, bateu todos os recordes", diz David Jones, presidente do Comunity Service Society.
Segundo Jones, o impacto da recessão foi maior em Nova York do que em outras cidades porque, além da crise nacional, a região vem sofrendo desaceleração na economia local.
``Os empregos nas fábricas estão diminuindo e isso prejudica sobretudo os não-qualificados", diz. Para Jones, não-qualificados são trabalhadores com 1º grau completo, mas sem especialização.
Apesar de a pobreza ter aumentando, o nível de escolaridade na cidade continua crescendo. Em 1980, 60,2% da população tinham concluído o 2º grau. Em 1994, esse número pulou para 74,0%.
O desemprego subiu de 10% em 1985 para 12,1% em 1994 (entre homens) e de 6,6% em 1986 para 8,8% em 1994 (entre mulheres).
``Hoje, não basta ter concluído o 2º grau para conseguir emprego. Quem não tiver desenvolvido uma habilidade, quem não souber mexer com computadores está fora do mercado", diz Jones.

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