São Paulo, domingo, 13 de agosto de 1995
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Começa disputa pelo mercado

CLÓVIS ROSSI
DO ENVIADO ESPECIAL A BOGOTÁ

O Brasil não é a única hipótese que especialistas levantam na tentativa de adivinhar o que ocorrerá no negócios das drogas após a prisão da cúpula do cartel de Cali.
Nos Estados Unidos, especula-se com a hipótese de que o mexicano Amado Carrillo Fuentes tome o lugar que foi dos três irmãos Orejuela, os ``capos" de Cali.
Já o jornalista colombiano Fabio Castillo, autor de dois livros sobre o narcotráfico, disse à Folha que ``há graves indícios" de reestruturação do cartel de Medellín.
A máfia de Medellín, chefiada por Pablo Escobar, morto pela polícia em 1993, comandou o tráfico até ser destronada pela turma de Cali.
Era infinitamente mais violenta e primitiva. O cartel de Cali também usa a violência, mas os Orejuela fizeram do grupo uma organização empresarial sofisticada.
Exemplo: do ano passado para cá, a polícia colombiana apreendeu quatro mini-submarinos que seriam usados no transporte de drogas. Máquinas modernas, com capacidade para até seis tripulantes.
O cartel de Cali tentou alugar seu próprio satélite de comunicações para evitar que a CIA e a DEA monitorassem as conversas de seus integrantes.
O cartel mantém 26 empresas de fachada, desde clubes de futebol como o América de Cali até empresas de transporte público, como a Táxis 10.
Servem, acima de tudo, para transformar o dinheiro sujo das drogas em dinheiro legal.
Os recursos movimentados pelas drogas são tão formidáveis que permitiram aos ``capos" chegarem à lista dos 20 homens mais ricos do mundo da revista americana ``Forbes".
Primeiro, foram Pablo Escobar e Jorge Luís Ochoa, do cartel de Medellín, e, agora, Miguel Angel Orejuela, o último de Medellín a cair (dia 8).
Jack Blum, ex-investigador da Comissão de Relações Exteriores do Senado norte-americano, calcula que o narcotráfico rendia aos Orejuela mais de US$ 2 bilhões anuais.
Dinheiro suficiente para, por exemplo, manter as atividades do Hospital das Clínicas de São Paulo durante quase oito anos.
Por muito que pareça, é só uma fração dos US$ 500 bilhões que a droga movimenta no mundo, conforme calcula o norte-americano James Mills, autor de ``O Império Subterrâneo Existe".
Se a cifra estiver correta, corresponde a tudo o que a economia brasileira produz na atualidade por ano.
É claro que essa roda da fortuna não vai parar de girar só porque foi preso um punhado de chefões.
Falta ainda prender o quarto homem da cúpula de Cali, Helmer Herrera Buitrago, o ``Pacho". E já há, diz a polícia colombiana, 12 nomes assumindo o lugar dos presos.
``Não se pode pensar que o cartel de Cali acabou. Atrás dele, vêm carteizinhos que se podem converter em uma nova cúpula como a desmantelada em Cali", diz o procurador-geral Alfonso Valdivieso Sarmiento.
Há um certo consenso entre os peritos que a Folha ouviu em Bogotá e que é mais corretamente enunciado pelo chefe da DEA, Thomas Constantine:
````Nunca se voltará a ver uma organização de narcotráfico tão poderosa e sofisticada como a de Cali", acha Constantine.
(CR)

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