São Paulo, terça-feira, 15 de agosto de 1995
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O equilíbrio da bola

JUCA KFOURI

Marcelo Coelho saiu de seus cuidados e com o talento de sempre escreveu sobre futebol. Adoraria discordar dele, só pelo gosto da polêmica, mas, que pena! Na verdade gostaria de ter escrito o que ele escreveu no último dia 9, na Ilustrada, sob o título ``Equilíbrio leva a disputa nos pênaltis".
Modesto, o articulista adverte que não acompanha os campeonatos de futebol e que, por isso, corre o risco de dizer bobagem ou chover no molhado. Não faz nem uma coisa nem outra. Sua chuva irriga o campo fértil da bola e faz pensar.
Como lidar com tantas decisões por pênaltis e tantas prorrogações?
Marcelo Coelho voa. E pergunta até que ponto a violência das torcidas não tem a ver com tamanho equilíbrio, posto que a vitória, hoje em dia, produz ``menos uma sensação de triunfo que de alívio". Teria desaparecido, assim, o efeito da catarse que era satisfeito por uma simples vitória. Significa dizer, a vitória não aplacaria mais os ódios contidos e daí até o festejar se transforma em agressões, depredações.
Do mesmo modo, a derrota não cala mais ninguém, porque sempre é atribuída a um azar, a um detalhe, não a ter sido inferior. É brilhante.
Segundo Marcelo Coelho, o futebol não serve mais para canalizar os instintos agressivos do torcedor cujo fanatismo também não neutraliza mais outras formas perigosas de comportamento.
Organize-se tais sentimentos e temos os belos -sem ironia e com ironia- espetáculos fascistas das chamadas torcidas organizadas. Tão belo em suas coreografias como eram belas as paradas do exército de Hitler, desfiles de atores que em seguida se transformavam em assassinos. Alguma semelhança?
O articulista propõe urgentes mudanças nas regras do jogo, para torná-lo menos igual para todos, menos conhecido de todos, para que as conquistas físicas e tecnológicas não prevaleçam tanto na equiparação dos times, numa palavra, para que o gênio possa prevalecer novamente. E aí nos vemos diante de duas velhas questões:
1 - Pelé e Garrincha, por exemplo, teriam hoje o mesmo sucesso de ontem? Outro dia a boa cabeça de Casagrande disse no Cartão Verde que nem Sócrates jogaria nos dias que correm -e olha que Sócrates é muito mais de hoje que de ontem.
2 - o fascínio do futebol não estaria exatamente no fato de suas regras serem conhecidas por todos -exceto, talvez, pelos árbitros?
O futebol precisa achar respostas às indagações que gente como Marcelo Coelho formula.

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