São Paulo, terça-feira, 15 de agosto de 1995
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Exposição traz saga de imigrantes japoneses

JOÃO BITTAR
EDITOR-ADJUNTO DE FOTOGRAFIA

No ano do centenário do Tratado de Relações Comerciais Brasil-Japão, a Casa de Fotografia Fuji abre amanhã a exposição fotográfica ``A Saga dos Filhos dos Sol Nascente", de autoria de Keiju Kobayashi, 62, sobre a história dos imigrantes japoneses no Brasil.
Resultado de uma pesquisa de sete anos, a exposição focaliza a vida de 15 famílias que chegaram ao país nas primeiras décadas deste século, contada por reproduções de álbuns familiares e fotos atuais produzidas por Kobayashi.
Conseguir autorização das famílias, capturar imagens da intimidade para torná-las públicas e depois juntar todas as gerações (especialmente os mais novos) para fotografá-los não foi tarefa fácil.
Vencer as dificuldades que aparecem em um trabalho deste tipo é tarefa complicada por se tratar de colônia japonesa, tradicionalmente discreta e fechada aos estranhos.
Kobayashi, sem ajuda de qualquer instituição ou pessoa, faz um trabalho que, além das fotos, tem uma pesquisa histórica com as famílias retratadas (escrita em japonês pelo autor), dando uma dimensão antropológica à obra.
Keiju Kobayashi nasceu na terra da seda, Isesaki (distante 70 km de Tóquio), e era eletricista quando imigrou para o Brasil em 1955, aos 22 anos.
Foi parar em Duartina (385 km a Noroeste de São Paulo) trabalhando na criação de bicho-da-seda, com a técnica japonesa. Dois anos depois, obrigado a deixar o campo por motivo de saúde, veio para capital montar rádios com transistores, hit de consumo da época, e um dos primeiros produtos da moderna tecnologia japonesa a invadir nosso mercado.
Em 69 começou a fotografar seus filhos e tomou gosto pela coisa. Tanto que, neste ano, ganhou uma menção honrosa no concurso internacional da Nikon, com uma foto do carnaval brasileiro.
Em seguida, deixou a família aqui e voltou ao Japão para procurar emprego, que não conseguiu. Apesar disso, trabalhou em laboratório fotográfico e aprendeu bastante sobre seu novo ofício que iria desenvolver no Brasil, para onde voltou nove meses depois.
Ele era esperado como técnico de TV em cores, absoluta novidade naquele momento, mas começou em um estúdio fotográfico e passou a fazer fotos para revistas.
Sua rigorosa técnica e seu estilo superpaciente, característica oriental, o fizeram o melhor e mais requisitado fotógrafo de obras de arte no mercado editorial.
As 54 fotos da mostra, que se encerra dia 15 de setembro, estão dispostas em painéis que trazem textos com as histórias de cada família. As imagens são singelas e têm em comum a simplicidade que revela a modéstia do autor, que interfere o mínimo possível na cena.
Esta característica, também presente nas fotos antigas, dá uma unidade linear ao trabalho e oferece uma leitura agradável aos que gostam de fotografia e a quem se interessa pelo tema.

Exposição: A Saga dos Filhos dos Sol Nascente, fotos de Keiju Kobayashi
Onde: Casa de Fotografia Fuji (av. Vereador José Diniz, 3.400, tel. 011/ 533-7367
Quando: abertura amanhã, até 14 de setembro (das 9h às 19h)
Entrada: grátis

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