São Paulo, terça-feira, 15 de agosto de 1995
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Tudo como dantes

O Brasil exportou em julho mais do que importou. Fica assim o cenário menos carregado. Afinal, desde a crise mexicana considera-se mais prudente, para dizer o menos, evitar a tendência a déficits crônicos no comércio exterior.
A economia encontra-se hoje exatamente no meio do caminho na passagem de um modelo velho, protecionista e inflacionário, para um novo, em que a busca da competitividade seja permanente.
No modelo velho, a obtenção de superávits comerciais era em boa medida fruto da combinação entre retração da economia e desvalorização cambial contínua. No modelo novo, a desvalorização cambial automática está descartada.
Resta saber se o modelo novo pode ou não abrir mão também do ajuste recessivo crônico. No momento atual, a obtenção do superávit parece ainda um fruto bastante custoso de desaquecimento interno e imposição de tarifas mais elevadas, cotas e outras limitações, como a manutenção de juros elevados para estimular o fechamento antecipado de exportações.
As autoridades do governo admitem não ter simpatias por uma política que leve a uma forte desaceleração econômica, de difícil reversão. Com a queda nos juros internacionais, a recuperação das reservas no Banco Central, a superação do pior na crise mexicana e a disponibilidade de financiamento externo para as importações, aos poucos parece que o governo toma fôlego para conviver com pequenos desequilíbrios (déficits ou superávits ocasionais).
Assim talvez se delineasse uma terceira via: nem recessão, nem desvalorização maior do real, mas um ambiente gradual e progressivamente mais competitivo.
É uma utopia e, como em todos os sonhos, a beleza do ideal não é garantia de tranquilidade no percurso real.
Esse modelo virtuoso depende bastante da estabilidade e da predisposição de os mercados externos acreditarem no Brasil. Exatamente como antes da crise mexicana.

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