São Paulo, quinta-feira, 17 de agosto de 1995
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Banespa custa R$ 40 milhões por dia

SILVANA QUAGLIO
DA REPORTAGEM LOCAL

O Banespa não conseguiu aumentar o volume de captação de recursos no mercado nos últimos oito meses. Com isso, segundo a Folha apurou, o rombo permanece na faixa dos R$ 6 bilhões.
Este é o volume que o banco tem de tomar emprestado diariamente para fechar o caixa. O Banespa pode pegar dinheiro emprestado de outros bancos no mercado de títulos privados (CDI, Certificado de Depósito Interbancário) ou de títulos públicos (overnight).
Caso não consiga arrumar no mercado o dinheiro suficiente, ele ainda pode recorrer ao Banco Central, no chamado redesconto. O dinheiro é acrescido de juros, como em qualquer operação, mas a taxa aplicada depende do grau de confiança que o mercado tem na instituição.
O rombo no caixa é causado pela dívida que o governo do Estado tem com o banco, de R$ 12,5 bilhões. A rolagem da dívida custa R$ 40 milhões por dia ao Estado.
O Banespa está sendo administrado pelo Banco Central desde 30 de dezembro de 94. O BC decretou a intervenção do Banespa depois que o mercado começou a negar crédito à instituição, no final do ano passado.
Nos últimos oito meses, a dívida do governo do Estado para com o banco aumentou de R$ 9 bilhões para R$ 12,5 bilhões. Se não melhorou, a saúde do banco também não piorou. O Banespa está deixando de recorrer ao redesconto do BC, o que significa tem conseguido obter recursos no mercado.
Especialistas ouvidos pela Folha afirmam que a intervenção do BC conduz as instituições para a liquidação (fechamento) ou para a federalização (o governo federal assume o banco).
Foi por isso que o senador Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA) jogou seu peso político para forçar o recuo do governo que, na sexta-feira, havia determinado a intervenção do BC no Econômico.
“As situações não são comparáveis, mas lá o Estado agiu rapidamente e a resposta do governo federal foi pronta”, disse à Folha o líder do governo Covas na Assembléia Legislativa, Walter Feldman (PSDB).
“Temos de encontrar uma solução para o rombo do Banespa imediatamente. O custo da rolagem (R$ 40 mi por dia), poderia gerar muitos investimentos produtivos do Estado”, afirmou Feldman.
As negociações entre o governo paulista e o BC para suspender a intervenção serão retomadas na próxima semana.
Para o BC, a solução passa pela privatização do banco. Isso teria de ser aprovado pela Assembléia. Segundo Feldman, os deputados resistem à privatização.
“Queremos manter o banco público porque o desenvolvimento de várias áreas, principalmente micro e pequenas empresas, depende do Banespa”, diz Feldman.
Raciocínio semelhante é feito pelo presidente do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Ricardo Berzoini (CUT). “É possível mudar o perfil acionário sem a perda do controle pelo Estado, mas o governo tem de cobrar o mesmo tratamento dado ao Econômico”.
Segundo a Folha apurou junto a negociadores do caso Banespa, a intenção é, mais do que nunca, agilizar a solução. Na avaliação destes negociadores, se o plano de privatização que o empresário Daniel Dantas preparou para o Econômico der resultados rápidos, a situação do Banespa ficará insustentável.

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