São Paulo, quinta-feira, 17 de agosto de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Mulher de juiz abre crise no caso Simpson

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

Um dia depois de ter recebido sugestão para se afastar do caso, o juiz Lance Ito resolveu continuar a presidir o julgamento de O. J. Simpson.
Os novos ziguezagues do mais espetacular tribunal do júri da história dos EUA ocorreram quando a mulher de Ito se tornou uma potencial testemunha.
Margaret York, a mulher mais graduada da polícia de Los Angeles, casada desde 1981 com Ito, foi supervisora do detetive Mark Furnham em 1985.
Furnham foi o policial que encontrou a luva do assassino da mulher de Simpson e um amigo dela na casa do ator e ex-jogador de futebol americano.
A defesa diz que Furnham é um racista que colocou a luva na casa de Simpson só porque o réu é um negro bem sucedido e casado com uma loira.
No seu testemunho ao júri, Furnham negou ser racista e afirmou que há pelo menos dez anos não usava a expressão pejorativa ``nigger" (crioulo).
Na semana passada, a defesa descobriu fitas de áudio recentes em que Furnham se refere a negros como ``niggers".
Também há referências desrespeitosas à mulher de Ito, que em novembro afirmara nunca ter conversado com Furnham.
A promotoria quer impedir o júri de ouvir as fitas e diz que, se isso ocorrer, Ito estará em posição de conflito de interesses.
Na terça-feira, a principal promotora, Marcia Clark, disse que talvez fosse o caso de Ito se declarar impedido de continuar no caso.
Ontem, voltou atrás e aceitou a tese da defesa de que outro juiz decida apenas se York pode ser chamada como testemunha ou não.
Ito chegou quase às lágrimas ao se referir a sua mulher, dez anos mais velha do que ele, e dizer que a ama ``muito carinhosamente".
Promotores e advogados de defesa trocaram acusações na sessão de ontem, sem a presença do júri.
O embate mais contundente foi entre o promotor Cristopher Darden e o advogado Johnnie Cochran, ambos negros.
Darden disse que a defesa transformou o julgamento num ``circo". Cochran afirmou que Darden queria tirar Ito do caso por interesse próprio.
As agressões ocorrem desde o início do julgamento, quando Cochran disse que Darden integrava a promotoria só por ser negro.
Darden tem tentado impedir que o alegado racismo de Furnham seja discutido diante do júri. Para ele, o assunto é ``inflamatório e diversionista".
O pai de Ronald Goldman, uma das vítimas, disse que a defesa quer transformar o julgamento de Simpson em um julgamento de Furnham.
A questão racial, sempre subjacente, passa à condição de assunto mais importante no tribunal.
Pesquisa do Instituto Gallup de março mostra que 56% dos brancos mas só 24% dos negros acham que Simpson é culpado.
Oito dos 12 jurados e 2 suplentes ainda estão no júri são negros. Los Angeles, onde o julgamento ocorre, é uma cidade com grande tensão racial.
O duplo homicídio aconteceu em 12 de junho de 1994. Simpson foi preso cinco dias depois. O julgamento começou em 26 de setembro.

Texto Anterior: Croácia prepara nova ofensiva
Próximo Texto: EUA reconhecem existência de trabalho escravo na Califórnia
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.