São Paulo, sexta-feira, 18 de agosto de 1995
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Decreto antifumo de Clinton é uma droga

BARBARA GANCIA
COLUNISTA DA FOLHA

Esse Bill Clinton é uma piada. Um dos fatores que o ajudaram a se eleger foi a promessa de sanar o endividadíssimo Medicare (o INPS gringo).
Mas, como não consegue cumprir promessa alguma e quer se reeleger, o presidente finge mostrar serviço.
Baixou um decreto que classifica a nicotina como ``droga causadora de dependência". A medida proíbe a venda de cigarros em máquinas automáticas; exige documento provando a maioridade do comprador; impede que marcas de cigarros patrocinem eventos esportivos (Bye, bye, Fórmula Indy!) e apareçam em bonés ou qualquer outro tipo de roupa.
Pois eu digo: o decreto do presidente de Arkansas (o Pará gringo) só serve para desviar a atenção do Medicare e de outro grave problema.
Em um país como os EUA, onde qualquer ginásio de subúrbio tem à porta um detector de metais para impedir que os estudantes entrem na escola portando armas, a proibição da venda de cigarros a adolescentes é um pingo de conta-gotas no Pacífico. Serve apenas para tirar o emprego de milhares de trabalhadores que lidam com o tabaco direta e indiretamente -como é o caso de fabricantes de bonés e camisetas Marlboro, só para citar um exemplo.
Menciono os detectores de metais nas escolas para chegar ao âmago da questão: as guerras entre gangues -problema que já atingiu proporções insuportáveis e que está intimamente ligado a outra e bem mais poderosa ``droga causadora de dependência". Refiro-me ao crack, essa maldição que, mesmo na cidade de São Paulo, já merece mais atenção do que inócuos decretos contra o fumo em restaurantes.
O crack vicia em pouco tempo, mata e induz ao crime. Em Sampa estamos aprendendo isso empiricamente. Seu consumo, aqui e nos EUA, só faz aumentar. Mas como não é, ainda, um problema que atinge de forma contundente as classes abastadas, fecha-se o olho.
Finalizo com uma perguntinha: se o FDA (órgão que regulamenta alimentos e medicamentos nos EUA) considera o cigarro como droga, por que não proibir de vez a venda e o consumo do cilindro nicotífero?

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