São Paulo, sexta-feira, 18 de agosto de 1995
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Um episódio histórico

LUÍS NASSIF
UM EPISÓDIO HISTÓRICO

Quando o cenário desanuviar, a opinião pública se dará conta de que a semana que se iniciou no dia 11 de agosto e terminou no dia 17 foi mais um divisor de águas na vida nacional.
A reação da opinião pública aos presumíveis favores que seriam concedidos ao Banco Econômico coloca um ponto final nas aventuras com dinheiro público. A indignação atingiu a todos, de funcionários do Banco Central a sindicalistas, empresários e classe média e, doravante, passa a ser dado definitivo da vida nacional. Não se mama mais nos cofres públicos.
Como consequência desse processo, rompeu-se o pacto de cumplicidade do setor político em relação às benesses do Estado.
Ontem, por exemplo, representantes do grupo baiano despejavam dardos de fogo contra outras tentativas de obter favores federais. Citavam o caso do governo de Minas, pessoalmente empenhado na busca de soluções federais para o caso da Mendes Júnior. E o caso paulista, com seu passivo contra a Eletrobrás. Manifestavam indignação com o que consideravam farisaísmo do senador Pedro Simon -que foi um dos lobistas para a estatização do Meridional- e do deputado Francisco Dornelles -que estatizou o banco.
O país demonstrou dispor de um federalismo maduro, onde cada parte fiscaliza a outra, impedindo novos assaltos contra os recursos federais.
Além disso, a nova cultura política experimentou duas vitórias com apenas uma cajadada. De um lado, impediu que os baianos sacassem contra os cofres públicos. De outro, transformou-os doravante em intimoratos defensores desses mesmos cofres.
Afinal, se a Bahia não levou, nenhum outro Estado poderá ter a pretensão de levar.

Precedentes
Apesar do bom resultado a que se chegou, o episódio obriga a reflexões profundas sobre o que ocorreu.
Os métodos utilizados pelo grupo baiano para fazer valer seus interesses não podem ficar sem resposta. As ameaças de espalhar boatos sobre a saúde de outras instituições financeiras e as insinuações contra a honorabilidade da diretoria do Banco Central, agravando o clima de paroxismo que dominava o mercado, colocaram em risco a segurança do país e demonstraram a absoluta falta de limites desse pessoal.
Há leis específicas sobre o assunto que devem ser acionadas; se não para processar o grupo -já que a ameaça não se concretizou-, ao menos para fixar um parâmetro para qualquer tentativa futura de reeditar o episódio.
Quanto à sua mala de denúncias, o senador Antônio Carlos Magalhães está na obrigação moral ou de abri-la -estando cheia ou vazia- ou arquivá-la de vez. Não faz justiça à sua envergadura política trazer esses métodos de província para a cena nacional.

FHC não cedeu
Afinal, o presidente da República cedeu às pressões do grupo baiano, voltando atrás ante o clamor geral, ou jamais prometeu o que os baianos anunciaram como fato definitivo?
O principal argumento de que o presidente cedera foi a reação da diretoria do Banco Central -que, na noite de terça-feira, cogitou da demissão coletiva. No entanto, diretores do BC ouvidos pela coluna explicaram que sua reação se baseou nos relatos das agências de notícias, das televisões e dos parlamentares. Só conversaram com o presidente no dia seguinte, quando receberam a garantia de que não haveria concessões.
A degravação do ``briefing" concedido pelo porta-voz Sérgio Amaral à imprensa, na noite de terça-feira, comprova a versão de que o presidente não havia cedido. Por ele, fica claro que em nenhum momento o presidente admitiu subsidiar os baianos.
O fato de, na terça-feira, nem sequer a diretoria do BC saber da versão correta indica a necessidade de aprimorar os sistemas de comunicação interna e externo.

Retificação
A indignação do colunista com o caso Econômico, em cima das primeiras informações apuradas, fez com que enviasse uma coluna com o título ``Um presidente pusilânime" em cima do horário de fechamento.
Alguns minutos depois, refletindo melhor sobre o assunto, o colunista (que estava no Rio) entrou em contato com a Redação, solicitando que se trocasse o adjetivo por ``fraco" -que, até aquele momento, refletia mais apropriadamente o comportamento do presidente no episódio, à luz das informações recebidas.
Infelizmente, a retificação não foi feita a tempo de impedir que o título saísse publicado na edição Nacional. Só se retificou na edição paulista.
O título só se justificaria se a operação tivesse sido consumada.

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