São Paulo, sexta-feira, 18 de agosto de 1995 |
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Brasil admitirá à OMC que suas reservas são ``voláteis" Argumento será usado para defender cotas em importações CLÓVIS ROSSI
Essa é a conclusão inevitável a que se chega ao ouvir o esboço da defesa que o governo apresentará, dias 5 e 6 de outubro, à OMC para explicar a decisão de impor cotas à importação de veículos. Celso Lafer, embaixador do Brasil em Genebra, sede da OMC, diz que parte da defesa passará pela lembrança de que o Senado, ao aprovar o acordo de renegociação da dívida externa, impôs que as reservas equivalessem sempre a no mínimo quatro meses de importações. As reservas passam de US$ 40 bilhões, o que parece um número folgado, por esse critério. Mas o embaixador dirá à OMC que uma parte delas ``é de caráter volátil". Traduzindo: correspondem a capitais que ingressam para ficar muito pouco tempo e saem correndo ao menor sinal de dificuldades. A questão é saber quanto das reservas é volátil e quanto corresponde a capitais de mais longa permanência. Quando a Folha perguntou a Lafer se o volume atual já representava estar com a água chegando à boca, o embaixador saiu pela tangente dizendo que os números ainda estavam sendo compilados. Mas afirmou que dava para manter ``o nariz acima d'água". Metáfora à parte, significa que a parte não-volátil das reservas só pode ser menor do que a volátil. É só fazer as contas: em julho, as importações foram de US$ 4 bilhões. Para cumprir sem sustos com a exigência do Senado, as reservas confiáveis devem ser correspondentes a quatro vezes esse valor ou US$ 16 bilhões. Se há mais de US$ 40 bilhões em reservas e se está apenas com o nariz acima da linha d'água, só se pode concluir que a maior parte desse volume é volátil. O embaixador Lafer, na defesa do Brasil, cunhará uma nova expressão: ``liberalização comercial sustentável". É calcada na expressão ``desenvolvimento sustentável", consagrada internacionalmente desde a Eco-92, a conferência mundial sobre meio ambiente realizada no Rio, há três anos. Significa que o governo brasileiro mantém a disposição de abrir a sua economia, desde que isso permita ``equilíbrio adequado das contas externas", explica Lafer. A defesa brasileira será apresentada ao Comitê de Balanço de Pagamentos da OMC, que é uma espécie de xerife do comércio mundial, em funcionamento desde o dia 1º de janeiro. Texto Anterior: Um episódio histórico Próximo Texto: BNDES lança títulos para privatização Índice |
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